domingo, 15 de janeiro de 2012

Elis Regina - Montreux Jazz Festival - 1979





Em 1979 a estrela da noite brasileira no festival de Montreux era Elis Regina. E um disco ao vivo gravado no festival seria um impulso e tanto na carreira da cantora , que havia mudado de gravadora na época. Tendo uma das melhores bandas na época, contando com : Cesar Camargo Mariano ( teclados), Hélio Delmiro(guitarra),Luizão Maia(baixo), Paulinho Braga(bateria) e Chico Batera(percussão). Com os arranjos simples porém eficientes, sem maiores surpresas para brasileiros , mas um grande show para a platéia do festival que exigiu e teve uma matinê extra com show da cantora.
 

A lotação do cassino de Montreux estava esgotada há dias , pois o bruxo dos sons Hermeto Pachoal vindo de gravações com Miles Davis,  era idilotrado por toda a platéia do festival e faria a 1ª noite brasileira. Com o show da matinê Elis arrasou, cantou com muita segurança, técnica sendo discreta e botando toda a sua  emoção,  num repertório de alto nível e assim arrematou toda a platéia.



Mas com o show da noite que ficou com a abertura de Hermeto e sua banda , que literalmente quebraram tudo e foram aplaudidos de pé por 15 minutos. E depois do intervalo do 1º show , eis que surge Elis para fechar a noite brasileira em Montreux, com uma orquídea azul nos cabelos, como Billie Holiday e trajando um vestido que a deixava com a aparência de mais velha , Elis com 10 minutos de show transpirava , estava tensa e nervosa , tal estado fez com que seu amigo e produtor André Midani, adentra se o palco com um copo d'água , que a cantora prontamente bebeu. Continuando o show Elis não cantava mal, mas com precisão e técnica sem tentar qualquer efeito, as vezes parecendo fazer grande esforço para cantar. Uma apresntação com pouca emoção e quase burocrática, mas os estrangeiros boquiabertos com sua afinação e timbre, e suas técnicas impecáveis e com certa tensão criativa.


Sendo assim quando o show terminou , Elis foi muito aplaudida mas nada comparado com o que Hermeto recebeu no show anterior, e estando exausta a cantora que saiu rapidamente do palco, mais eis que no meio daquela gritaria o diretor do festival Claude Nobs, chamou Hermeto de volta a cena que foi devidamente ovacionado,  e havia assistido a  todo o show de Elis na coxia. Sabendo que havia perdido a noite para o bruxo , Elis voltou ao palco frustrada e furiosa , pisando duro e sorindo tensa para a platéia.


Silêncio total , piano e voz . Hermeto começa a tocar "Corcovado" e Elis canta, transformando suas harmonias em dissonâncias surpreendentes , e assim cada vez mais vai ficando difícil tanto para Elis como que para qualquer outro cantor(a), seguir acompanhando o mago dentro do mar de tonalidades tão sofisticadas e dissonantes que transbordam de Hermeto e todo e qualquer instrumento que esteje tocando. Assim a dupla deixa este velho sucesso nacional , completamente e genialmente IRRECONHECÍVEL.
E Elis segue respondendo a qualquer saque do bruxo com uma precisão que o espantava e o fazia mudar ainda mais. Depois vem "Garota de Ipanema", ( Elis odiava e dizia que nunca a cantaria), ela baqueou no início mas logo se recuperou, e cantou com todo vigor que virou a canção pelo avesso, cantou uma parte em inglês com sotaque perfeito, imitando uma menina dengosa, rindo, debochando e provocando Hermeto, voaram juntos para uma platéia eletrizada. Daí com o público de pé, veio  "Asa Branca", como  round final entre Elis e Hermeto, e o baião de Luiz Gonzaga se transformou em ambiente free jazz e atonal, harmonias jamais sonhadas se cruzavam com fraseados audaciosos de Elis, trocas bruscas de ritmo e andamento, propostas e respostas, tiros cruzados e acima de tudo e todos arte musical de altíssimo nível sendo protagonizada por 2 dos melhores e maiores virtuosos musicais brasileiros. O show foi tão bom que precisou de uma festa , pois o presidente da gravadora estava pasmo com o que havia ouvido e assistido e tinha certeza que sairia um disco, mas Elis ameaçadora  como sempre chamou seu amigo André Midani e mandou o recado : Este disco não vai sair , não é ? Difícil não, pois aqui ouvimos arranjos e performances mais que perfeitos dos músicos e César Mariano também , que casaram magistralmente com a voz e interpretação de Elis. Em 2001 numa garimpada de arquivos da gravadora , acharam todo o show gravado, e numa edição em cd,  com músicas que não entraram no LP, lançou se um item que nos acompanhará por toda a vida.









Músicas :
1- Cobra Criada
2 - Cai Dentro
3 - Madalena
4 - Ponta de Areia - Fé Cega Faca Amolada - Maria Maria
5 - Na Baixa do Sapateiro
6 - Upa Neguinho
7- Corcovado
8 - Garota de Ipanema
9 - Asa Branca
10 - Amor até o Fim
11- Mancada
12 - Samba Dobrado
13- Rebento
14 - Águas de Março
15 - Onze Fitas
16 - Agora Tá

2 comentários:

  1. Essa colocação sobre Corcovado, Hermetho e Elis, é a mais pura verdade. Foi exatamente aqui que começou minha história com o jazz.
    Aqui, sem eu saber, fomos apresentados o jazz e eu .
    “Jazzeu”
    Saindo da adolescência, percebi pela primeira vez, intuitivamente, uma sonoridade jazzística a qual busquei pelo resto da vida, desde quando quando viajei …
    Pela voz de Elis e o piano de Hermetho
    No “E eu que era triiiiiste….”
    E o trenzinho do Corcovado de Tom Jobim
    Me levou em um acorde do Rio até Montreaux, Suiça
    Ao meu primeiro Festival de Jazz em 1979
    Que assisti pela TV Educativa – RJ- Brasil-Bendito youtube… que me proporcionou esse reencontro e agora aqui no fredyharp-vitrinedorock OBRIGADA

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