sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Quando Jimi Hendrix quis ser ouvido. - Axis Bold As Love - 1967




Se alguns afirmam que Are You Experienced? é um disco inspirado na sua execução e incendiário em seu espírito. E que Electric Ladyland é um trabalho mais intelectual e o ápice do que se entende por “álbum de estúdio”, (elaborado demais a ponto de não poder ser reproduzido ao vivo e de recepção programada para ser ouvido atentamente na frente de um aparelho de som estéreo ou com fones de ouvido). Com isso — e uma parcela substancial do público concorda — Axis: Bold As Love seria a porção menos digna da discografia clássica de Jimi Hendrix. O acusam de ter sido um disco produzido às pressas, para se aproveitar as vendas de natal. Entretanto, essa é uma análise completamente equivocada, e mesmo passadas 4 décadas de seu lançamento as canções continuam impetuosas e cintilantes e vemos como Hendrix e seus comparsas tinham o controle total com as tecnologias de estúdio da época.

As sessões de gravações do Axis aconteceram entre maio e junho de 1967, no Olympic Studios (Inglaterra), sendo que o grupo voltou a gravar algumas partes e novas faixas no mês de outubro. E se algo foi feito as pressas foi uma segunda mixagem do lado A, pois Jimi esqueceu a fita master dentro de um taxi. Isso o obrigou a realizar sessões noturnas de remixagem junto com Chas Chandler e o engenheiro de som Eddie Kramer, para cumprir os prazos agendados com a gravadora.
Axis: Bold As Love é marcado pelo uso crescente de LSD por parte de Hendrix, em uma quantidade inicial que se revelou produtiva. Com uma sensibilidade aguçada e, após tantos shows, gravações de compactos e o lançamento de um álbum de sucesso, a Experience revelava um entrosamento que resultou numa musicalidade impressionante e ímpar.


é um álbum conceitual, inspirado num livro que Jimi havia lido sobre aura e a cor resultante das notas musicais. A primeira faixa é uma introdução psicodelíssima. Cheia de efeitos e mudanças de velocidades na reprodução do áudio gravado, EXP simula uma transmissão de rádio em que o entrevistado fala sobre OVNIs e seres vindo de outros planetas. O locutor é pego de surpresa pelo que soa com a chegada de uma nave espacial. Uma verdadeira overdose de microfonia e saturação sonora, em que o “disco voador” salta de uma caixa de som a outra. De cara já se nota que Axis é um trabalho muito bem elaborado em estúdio. Nesse sentido, mais caprichado que a estréia e antecipando o seu sucessor.
Mitch Mitchell está no seu auge criativo, com uma pegada e timbres mágicos. Noel Redding brilha em uma composição própria onde assume os vocais. Hendrix atinge a genialidade enquanto compositor, alcança seu ápice lírico como letrista (seus momentos poéticos mais inspirados estão indiscutivelmente nesse disco) e canta como nunca.


Spanish Castle Magic e sua melodia em espiral, estrutura vai e volta de "If 6 Was9``, a beleza inédita em "Castle Made Of Sand"  e a pertubadora " Little Wing", com suas guitarras principal e rítmica misturadas, foi várias vezes regravada por diversos artistas fora os timbres coloridos que o guitarrista extrai de seu instrumento,sem que o revezamento desses segmentos produzam um efeito de quebra na recepção do ouvinte. E essa complicada química na conjuntura das faixas só é possível pelo fato de que cada música — nesse formato enxuto, “pop” — se revela perfeita A qualidade Pop deste disco , está a frente de produções atuais e servindo de referência até hoje.

Axis: Bold As Love é o trabalho mais experimental e diversificado, musical e liricamente, na discografia da Experience. Não se encontra à sombra de seu predecessor e sucessor. É, na verdade, uma obra prima tão singular que extrapola, sensibilidade humana e musical ,que vai ficar para sempre.

Faixas:
1 – EXP [1:55]
2 – Up From The Skies [2:55]
3 – Spanish Castle Magic [3:00]
4 – Wait Until Tomorrow [3:00]
5 – Ain’t No Telling [1:46]
6 – Little Wing [2:24]
7 – If 6 Was 9 [5:32]
8 – You Got Me Floatin’ [2:45]
9 – Castles Made Of Sand [2:46]
10 – She’s So Fine [2:37]
11 – One Rainy Wish [3:40]
12 – Little Miss Lover [2:20]
13 – Bold As Love [4:09]


Discografia Básica do Rock - Scorpions - Tokyo Tapes - 1978



O Scorpions tomou forma na Alemanha em 1966, e começou a colocar a partir de 1972 seus sempre bons álbuns no mercado. E, graças à garra de suas composições e performances ensandecidas ao vivo, era um conjunto consagrado em vários países europeus na segunda metade dos anos 70, mesmo com a ascensão do punk derrubando vários gêneros musicais.
Em seus cinco primeiros álbuns de estúdio, muito do reconhecimento que o conjunto havia conseguido até então era creditado em grande parte ao criativo guitarrista Ulrich Roth, que não negava suas influências de Jimi Hendrix e aquela sua faceta mística típica do final dos anos 60. Porém, na verdade, o time todo era excelente, contando ainda com o vocalista baixinho Klaus Meine, o outro guitarrista Rudolf Schenker, Francis Buchholz no contrabaixo e Herman Rarebell nas baquetas.

Chega 1978 e o Scorpions se prepara para sua primeira excursão ao Japão, que era uma nação onde a banda tinha legiões de fãs, lembrando que Uli John Roth não queria ter viajado para esta turne, e foi o vocalista da banda quem teve a difícil atitude de persudir o guitarrista para viajarem. Rodaram o país por uma semana divulgando o álbum Taken by Force, e nos dias 24 e 27 de abril se apresentaram no Sun Plaza Hall, na cidade de Tóquio, registrando as canções que viriam fazer parte de seu primeiro disco ao vivo, chamado Tokyo Tapes, produzido por Dieter Dierks.

Aqui o ritmo das canções é bem mais veloz que as versões de estúdio, mostrando claramente que o habitat natural do Scorpions realmente era o palco, fato comprovado pela admiração dos amantes de discos ao vivo, que consideram Tokyo Tapes outro dos grandes registros deste período. Muitos de seus clássicos estão presentes, em especial faixas do álbum Virgin Killer, além de uma boa seleção de músicas de seus outros trabalhos. O hino “Steamrock Fever” é um dos grandes destaques, além de um bom solo de bateria em “Top of the Bill”. "He's a Woman, She's a Man", "Polar Nights" (cantada por Uli Roth) e "In Trance” mostram as melhores guitarras da banda nos anos 70.Tokyo Tapes veio consolidar ainda mais a grande fase que o Scorpions estava vivendo, porém, internamente, nem tudo ia bem. Já no álbum Virgin Killer Uli Roth vinha mostrando sinais de descontentamento com o direcionamento musical que seus companheiros queriam seguir, soando mais melódico e refinado. Na verdade, o conjunto alemão estava modificando sua música visando o distante e forte mercado norte-americano. E confirmada esta decisão, Ulrich resolveu por fim deixar o Scorpions, mas aqui fica gravado na história do rock um item essencial para você.

O Hard Alemão do Night Sun


Na Alemanha do início da década de 70 a situação era muito diferente. O problema era que nesse país, algo estava muito além. Berlin, principal cidade alemã, estava rodeada de traficantes de drogas pesadas, prostitutas e sujeira, que se propagaram em uma Alemanha pós-Guerra, divida em Alemanha Oriental e Ocidental, e com uma enorme dificuldade de reconstruir a vida de seu povo, e principalmente, de re-estabelecer a sociedade na sua nação. Isso evoluiu fortemente durante a década de 70, tendo como consequência, uma enorme quantidade de jovens, adolescentes e crianças que tiveram o contato com as drogas e perderam suas vidas, como retratado  no famoso filme "Christiane F., Wir Kinden vom Bahnhof Zoo" de 1981 (no Brasil, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída).
Nesse cenário decadente, com a Alemanha saindo do fundo do poço, alguns jovens buscaram no rock a solução para uma vida melhor,nascendo nessa efervescente cena de drogas e prostituição. Porém, muitos grupos não tiveram a sorte que os irmãos Schenker, Kalus Meine e cia., como foi o caso dos membros do Night Sun.
Suas origens vêm de um grupo de jazz que fez relativo sucesso na Alemanha durante os anos 60, o Take Five. Esse grupo era formado por Knut Rössler (órgão, piano, trompete, fagote, flauta e trombone), Werner Stephan (vocais), Edmund Seiboth (trompete), Hans Brandeis (guitarras, vocais), Torsten Herzog "Duke" (baixo, vocais) e Karl-Heinz Weber (bateria), e conquistaram seu espaço principalmente no sudoeste da Alemanha, em uma região conhecida como Rhine-Neckar.
Rössler fundou o Night Sun Mournin' em 1970, consistindo de um grupo no qual passaram diversos músicos, e dicifilmente chegou em uma formação fixa. Um ano depois,tendo na formação além de Rössler, Walter Kirchgassner (guitarras), Bruno Schaab (voz, baixo) e Ulrich Staudt (bateria). Sua inédita sonoridade chocou a região da Rhine-Neckar, e principalmente, aos fãs do Take Five. As linhas dos metais de Rössler, misturadas às distorções de Schaab e Kirchgassner, eram um pequeno veneno sonoro na veia do ouvinte, que depois de ouvir as canções, não podia segurar o debatimento com tamanha força das canções do grupo.

Não demorou para que o selo Zebra  que pertencia a Polydor, entrasse em contato com o quarteto, levando-os para os estúdios em meados de 1972, onde registraram o fabuloso Mournin'.
“Plastic Shotgun” abre o LP, com o riff da guitarra seguido pela marcação de baixo e bateria, com os teclados seguindo as notas da guitarra. A intrincada introdução traz os vocais de Schaab, acompanhado pela quebradeira de teclados, guitarra, bateria e baixo. Um piano com batidas fortes faz uma espécie de ponte, deixando a guitarra sozinha, puxando o ritmo que leva aos solos sobrepostos, voltando à letra. Após gritar o nome da canção, a guitarra passa a fazer barulhos diversos, que terminam a canção entre vozes estranhas.
Um longo acorde de teclado abre “Crazy Woman”. Baixo, guitarra e bateria fazem o tema marcado, junto do órgão, e Schaab canta sobre a pesada levada do Night Sun, destacando os efeitos durante a virada de bateria na ponte central da canção. O órgão se sobressai executando um dançante solo na segunda parte da canção, enquanto as linhas de baixo de Schaab, junto com a guitarra e a bateria, evoluem para um veloz acompanhamento, com Kirchgassner solando muito. Schaab volta à letra, e depois de mais uma curta sequência de viradas, os temas marcados retornam à introdução, que conclui a canção.
A épica “Got a Bone of My Own” surge com tons macabros e assustadores na guitarra. As sinistras notas do instrumento vão ocupando o recinto, e aos poucos, notas mais claras saem das seis cordas de Kirchgassner. A densa introdução é mesclada com notas de órgão e guitarra, estendendo-se por malucos três minutos, e então, a guitarra puxa o tema central, com o baixo acompanhando as notas, e a bateria fazendo a marcação.Desse tema, Kirchgassner sola notas rasgadas e marcadas, executando temas variados junto com baixo e bateria, e principalmente, controlado pelo peso das distorções.
O tema central é repetido, agora com a presença do órgão, e entre notas marcadas, Schaab passa a cantar. Os temas marcados entre baixo, bateria e guitarra, contrastam com o órgão, que passa a solar sobre outra bela levada do trio. Mais um tema marcado, e a letra continua, acompanhada pelo tema central e por intervenções da guitarra, que se prolongam até o fim da canção.
Para encerrar o lado A, “Slush Pan Man” surge com mais outro grande tema marcado entre guitarra, baixo, bateria e órgão. O peso sabbathiano de guitarra e baixo vai afundando o ouvinte em seu quarto, e a voz de Schaab ocupa-se de auxiliar os instrumentos nesse afundamento. Solos de guitarra surgem na ponte que leva para a segunda parte da letra, com mais temas marcados. Novos solos aparecem, porém com um andamento mais acelerado, sendo Kirchgassner o centro das atenções com suas notas rasgadas, repletas de bends e arpejos, assim como a linha de baixo envolvente de Schaab.

Uma assombrante voz abre o lado B com “Living with the Dying”, para o riff de guitarra, baixo, bateria e órgão trazer Schaab gritando o nome da canção. Um novo riff e a letra desenvolve-se, tendo um andamento quase marcial, com Schaab gritando muito. Os efeitos na bateria voltam a surgir durante o longo solo de Standt que surge no meio da canção, onde a sequência de batidas alterna-se entre rufadas nas caixas, viradas nos tons e uma marcação cronometrada do chimbal. Rossler aumenta a velocidade de seu solo, trazendo baixo, órgão e guitarra executando o riff inicial, e Kirchgassner passa a solar, dividindo o espaço com o órgão. A evolução dos solos se dá na mesma ordem, guitarra e órgão, para Schaab repetir a letra e encerrar a sinistra sensação que a canção passa ao ouvinte.
Os acordes do órgão de Rossler abre “Come Down”, que com um tema clássico, traz os vocais de Schaab acompanhado pelo violão e pelo órgão, construindo uma bonita balada com a adição do baixo e da bateria. Kirchgassner passa a fazer a melodia do vocal junto com o mesmo, e a balada continua, emocionante, chegando no solo de Rossler, com viradas no órgão e com bateria, guitarra e baixo fazendo o tema marcado. A canção transforma-se, ganhando peso, e a balada inicial agora é uma estonteante sessão de temas marcados entre baixo, órgão e bateria, com Schaab gritando a letra, levando a mais um bom solo de Kirchgassner, O órgão aparece com mais destaque sob o solo de guitarra, e então, novamente “Come Down” transforma-se, com violões e piano voltando ao tema inicial, para Schaab encerrar a letra com a guitarra dividindo a melodia dos vocais, para Kirchgassner soltar mais agudos em um belo solo de conclusão.
“Blind” volta aos temas purpleanos, em uma linha mais bluesística, destacando as sessões marcadas de baixo, guitarra, órgão e bateria, bem como o solo de Rossler no hammond, seguido pelo solo de Kirchgassner. Mais Deep Purple, impossível! Schaab retorna à letra, e mais um solo de Kirchgassner aparece, agora com mais virtuosismo, enquanto que o solo de Rossler no órgão é uma repetição de acordes em cima de uma mesma escala, concluindo com gritos e uma infernal barulheira da guitarra.
A mais rápida das canções de Mournin’ é “Nightmare”, com um ritmo veloz,  mas com uma diferença nos vocais de Schaab, quase punk-rock (se bem que o punk ainda não existia como hoje o conhecemos) e também nas intervenções da guitarra. As linhas melódicas da guitarra, cercada pelos complicados temas de baixo, órgão e bateria, levam ao agitado solo de hammond, e então, a sequência é repetida até o encerramento da canção, com um crescendo dos intrumentos, um longo grito de Schaab e mais barulhos.
O LP encerra-se com “Don’t Start Flying”, a qual começa com um belíssimo solo de saxofone, tendo baixo, guitarra e bateria quebrando tudo ao fundo. A letra surge tendo o saxofone fazendo o riff e intervenções. As jazzísticas participações do saxofone, misturadas com o peso do baixo e da guitarra, são uma saborosa mistura. Os solos são divididos entre saxofone e guitarra, sempre com os dois instrumentos fazendo os temas entre os solos de forma muito bem trabalhada, e Schaab continua a letra, fechando o álbum com os temas marcados sendo interferidos pela guitarra de Kirchgassner.
Mournin' foi produzido por Konrad Plank (responsável por produzir material de grupos como Ash Ra e Kraftwerk), o que deu uma cara progressiva ao hard e pesado som do grupo. Após o lançamento de Mournin', o grupo fez uma série de shows, mas a forte rigorosidade e o gênio de Rössler acabaram fazendo com que Schaab e Kirchgassner abandonassem o projeto ainda em 1972.Enquanto ao Night Sun, acabou  esquecido entre os grupos alemães, até que o selo Second Battle relançou Mournin' na versão em CD, com formato digipack, e com os alemães virando mais um nome obscuro a ser descoberto pelos admiradores de boa música, principalmente fãs de Black Sabbath, Deep Purple e do chamado stoner rock em geral.Compre o seu.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Free - Free Live - 1970


Formado em 1968 por Andy Fraser (baixo), Simon Kirke (bateria), Paul Kossoff (guitarra) e Paul Rodgers (voz), Free foi mais uma das grandes bandas britânicas surgidas nos anos 60 e a razão de seu sucesso era o hard  blues pesadão que tocavam.A sonoridade de "Free" transita entre o blues de "Tons of Sobs" e o hard rock, há em "Free" algumas pitadas de soul (principalmente nas interpretações de Paul Rodgers) e funk (na malícia da guitarra de Kossoff e no balanço da cozinha de Fraser e Kirke), o que coloca um tempero a mais na já muito bem azeitada música do grupo.

Lançado em 1971, Free Live é o quinto trabalho da banda, sendo o primeiro ao vivo, que vem registrar a atuação do conjunto no palco e  em sua melhor fase, numa compilação das melhores faixas tocadas em uma apresentação no Croydon Fairfield Hall.

O disco já começa com seu maior hit, “All Right Now”, passando por “I´m A Mover”, “Be My Friend”, aqui vale a atenção na linda interpretação de Paul Rodgers, transbordando emoção, as espetaculares “Fire And Water” e “Ride On Pony”, que tem grande impacto junto ao público. Mas o ponto alto realmente fica em “Mr Big”, com um ótimo solo de guitarra de Kossoff, onde em seguida entra Fraser solando longamente seu contrabaixo junto com a música, até seu final.Segue com a mais bluesy, “The Hunter”, e o disco termina com a inspirada balada “Get Where I Belong”, a cereja do bolo. Esse Free Live alcançou a 4ª posição no Reino Unido.Em 2002 esta pérola recebeu uma edição especial com 7 faixas a mais, sendo All Right Now e Mr.Big se repetem das faixas contidas no original.

Após este ao vivo e  depois de uma série de problemas com drogas,onde membros saem, formam-se projetos paralelos, conseguem lançar ainda dois trabalhos sem muita expressão, novamente a formação se altera, formam-se mais projetos.O Free deixa marcada a sua identidade no mundo do rock, e se ganha um disco para toda a vida.

Músicas :
 1-All Right Now
 2-I'm A Mover
 3-Be My Friend
 4-Fire And Water
 5-Ride On Pony
 6-Mr Big
7-The Hunter
8-Get Where I Belong





domingo, 23 de outubro de 2011

Discos que Marcaram a Minha Vida - Barão Vermelho - Ao Vivo - 1989



O rock brasileiro já produziu excelentes discos ao vivo. “Raul Vivo” (Raul Seixas - 1983), “Alívio Imediato” (Engenheiros – 1986), “Lobão ao Vivo” (1990), “Plugado ao Vivo” (Camisa de Vênus - 1995),  são álbuns marcantes e discografia básica pra quem curte o rock brasileiro.
Sempre valorizei os discos ao vivo dessa turma toda. Eram os primeiros que procurava pedir de presente ou comprar. Sou um dos que prega a máxima: “quem é bom faz ao vivo”, e por isso mesmo sempre preferi avaliar uma banda por suas performances de palco.


Todavia o melhor de todos, na minha modesta opinião, não está listado acima. O campeão do meu torneio é de uma banda essencialmente roqueira, mas que sempre soube que uma guitarra com levada de blues arrasta multidões. Os Stones nos ensinam isso há quase 50 anos...
“Barão Vermelho Ao Vivo” é uma compilação de três shows realizados pelos caras na casa de shows Dama Xoc/São Paulo, em 01, 02 e 03/06/1989. A produção do disco foi feita por toda a banda e pelo excelente Ezequiel Neves, que os acompanhava desde 1982.



No ano anterior o BARÃO havia lançado “Carnaval”, de onde saiu o hit “Pense e Dance”. 
O repertório do disco é essencialmente roqueiro, com alguns atalhos blueseiros. Cazuza e Frejat sempre tiveram um pouco de soul e blues no DNA e trouxeram essas raízes para mesclar a elementos do som nacional.
Estou convicto de que em nenhum outro trabalho do BARÃO os solos de Frejat foram tão bons e tão valorizados. O show todo gira em torno dele, o que é realmente ótimo. Completaram o line up do BARÃO para o disco: Dé no baixo, Guto Goffi na batera, Fernando Magalhães na guitarra base e Peninha na percussão.

O álbum abre com as ótimas “Ponto Fraco” e “Carne de Pescoço”, hinos roqueiros instantâneos compostos por Frejat e Cazuza, mas onde a mão do guitarrista imprime uma marca única. Em seguida surgem “Pense e Dance”, com destaque para o show de Peninha na percussão, e “Bete Balanço”, na sua melhor execução ao vivo.
Logo após Frejat anuncia: “Agora vamos aos blues...”... Então entra a densa e magnífica “Não Amo Ninguém”. Um “slow blues” de primeiríssima qualidade, com letra incrivelmente adequada ao ritmo e uma levada perfeita. Todas as influências de Frejat, que esmigalha nessa faixa, aparecem aqui: Hendrix, Jeff Beck, Clapton, Richards...
Na sequência o rock retorna... Na melhor faixa do disco, Frejat abre dizendo: “espero que vocês estejam tão sedentos de rock’n roll quanto vocês estão de álcool...” e a banda emenda ótimas versões de “Por Que a Gente é Assim?” e da inédita “Rock do Cachorro Morto”.
A também original “Quem você pensa que é?” mostra um pouco do BARÃO pós-Cazuza e abre caminho para a marcante entrada de “Pro dia Nascer Feliz”, primeiro hit do BARÃO e música que costumava fechar seus shows naquela época.
Esse CD foi relançado em 1998, com a inserção de três faixas bônus, todas menos famosas: “Lente” (parceria de Frejat com o eterno Titã Arnaldo Antunes), “Bagatelas” e “Torre de Babel” (ambas do álbum “Declare Guerra”, o primero sem Cazuza).
No final, uma surpresa... O BARÃO teve coragem e competência para mandar ver uma bela versão de “Satisfaction”, dos Stones, e homenagear a banda que mais lhe influenciou. As palmas da galera no início e a boa condução de Frejat dão um belo gás à música.E assim termina mais um disco para toda a vida.








    

Kansas - Leftoverture - 1976


Fundado em 1970 por Phil Ehart (bateria), Kerry Livgren (guitarras, teclados) e Dave Hope (baixo), o Kansas em apenas dois anos teve várias formações, até estabelecer-se com os três acima mais Robby Steinhardt (violino, voz), Rich Williams (guitarras) e Steve Walsh (teclados, voz, percussão). Esse time foi contratado por Don Kirshner (do famoso programa Don Kirshner's Rock Concert), e juntos, lançaram 8 vinis, dos quais 5 são fundamentais para qualquer colecionador de rock progressivo.
 Os álbuns Kansas [1974], Song for America [1975], Masque [1975], Leftoverture [1976] e Two for the Show [ao vivo, 1978] apresentam tudo o que uma banda progressiva necessita para ser considerada como a tal, ou seja, virtuosismo, dificuldade nas composições e longas suítes.

Utilizando elementos de country rock, hard blues e hard rock com roupagem sinfônica, apoiada pelo trabalho nos teclados da dupla Walsh-Livgren, neste quarto álbum que pode ser considerado um "masterpiece", a banda esbanja entrosamento e virtuosismo melódico. Ainda que as principais composições da banda sejam desta dupla, Robbie Steinhardt acaba conferindo um grande charme ao som do grupo com seu violino e seus solos. A musica do Kansas é baseada em teclados e violinos e uma "cozinha" muito competente. As guitarras cortam as melodias com riffs criativos onde se nota uma grande influencia de Blackmore no estilo dos solos de Livgren. Willians da apoio rítmico preciso. Instrumentalmente o som da banda neste disco é irrepreensível assim como todas as composições.

Lançada no álbum Leftoverture, "Magnum Opus" foi o último suspiro do Kansas mezzo progressivo mezzo bluesy. Na verdade, "Magnum Opus" nunca foi uma música pensada para ser como tal, e sim uma junção de seis partes que sobraram das suítes que o Kansas havia gravado anteriormente. Porém, o trabalho para fundir essas seis partes em uma complexíssima canção que fizesse sentido tornou "Magnum Opus" uma das canções mais difíceis de serem executadas na história do Kansas.
Leftoverture não é um disco de progressivo, mas representa definitivamente um resgate total da dignidade e gigantismo de uma banda americana de um rock sofisticado de arena, aspectos claramente demonstrados nos seus três discos anteriores. Obrigatório na sua coleção.






sábado, 22 de outubro de 2011

Dixie Dregs - What If - 1978


Steve Morse nasceu em Ohio , 28/07/1954, e aos 13 anos inluenciado por Hendrix,Jeff Beck,Blackmore,J.Page entre outros iniciou se a arte de inovar e tocar guitarra. O fabuloso guitarrista e ‘leprechaun’ Steve Morse, de personalidade musical carismática e técnica refinadíssima, é também o mentor da banda e responsável pelo estilo extremamente pragmático, preciso e intrincado de todas as composições e arranjos. Para se tocar as ‘fantásticas’ idéias que surgem de sua mente, somente um time composto por músicos de grande talento e versatilidade como Andy West (velho amigo da academia militar), Allen Sloan (da philarmônica de Miami), o criativo Mark Parrish e o excepcional baterista Rod Morgenstein, poderiam tornar concreto.


‘What If’ vem a ser o segundo álbum oficial da banda, posterior ao mais alegre ‘Freefall’ (77). A partir de ‘What If’, o som da ‘Escória do Sul’ (significado do nome da banda em português) amadureceria, se tornaria mais entrosado e um pouco mais pesado. A se julgar pelo estilo de som instrumental e virtuoso, a presença de violino e as influências no estilo de Morse (grande fã do venerado guitarrista inglês John McLaughlin), a banda absorve um conceito musical semelhante ao da cultuada Mahavishnu Orchestra, só que com sonoridade menos dissonante, mais divertida e inclinada para o southern rock. Aqui Morse mostra o que muito guitarrista deve aprender , compor para a música e não somente um exercicio de tocar notas , tentem ouvir as músicas sem a guitarra , e vejam que ela é para a banda.


Seja na mais imponente ‘Take It Off The Top’, nas mais progressivas ‘Odyssey’ e ‘Night Meets Light’, na funkeada ‘Ice Cakes’, na bucólica e barroca ‘Little Kids’ ou ainda na ótima ‘Travel Tunes’ (única escrita por West), a qualidade e perfeccionismo das performances é admirável, visto inclusive que a tecnologia e recursos de estúdio da época não possibilitavam ajustes das notas após a execução (coisa que com os ‘Protools’ de hoje é perfeitamente possível). As músicas possuem um aspecto ‘solar’ bastante intrínseco, a palhetada da guitarra de Morse é rude e veloz, Parrish exibe grande variedade de timbres de seus teclados e os solos e improvisos de todos os músicos costumam ser sempre vibrantes e bem espirituosos. A faixa ‘What If’ (que junto com ‘Ice Cakes’, está presente na primeira demo do grupo) leva bons toques de jazz e é a de estilo mais cool do disco. E, como não poderia faltar em um trabalho da banda, o country-boogie ‘Gina Lola Breakdown’ marca aqui a presença desse estilo.
Peça fundamental na sua coleção.


Discografia Básica do Rock - Foghat - Live - 1977





Foghat é mais uma das grandes bandas setentistas que muita gente desconhece. Apesar do visual do quarteto ser típico daqueles fazendeiros texanos bigodudos saídos desses filmes enlatados do velho-oeste norte-americano, os caras são ingleses, sendo que Dave Peverett e Roger Earl fizeram parte do famoso Savoy Brown ainda na Inglaterra. Depois de formado o Foghat, que foi ignorado em terras inglesas, se mudam em definitivo para os EUA, fazendo bastante barulho por lá.

"Foghat Live” (1977), é o sétimo álbum e o primeiro registro ao vivo, foi produzido por Nick Jameson e capturou a banda na melhor fase de sua carreira com sua música estilo boogie (blues mais veloz e pesadão, bem misturado com rock n´roll e beirando o hard rock). A banda é somente voz, duas guitarras, baixo e bateria, e mesmo com essa “limitação” de instrumentos a banda é um rolo-compressor de energia, esbanjando criatividade em suas composições e muita competência na hora de tocar.


Lembrando que na década de 70 ainda não existiam os hoje famosos “overdubs”, as correções em estúdios das falhas na gravação original, recursos que atualmente muitas bandinhas e até mesmo feras consagradas por aí usam para suprir sua deficiência ao vivo . Naquela época os músicos realmente tinham que tocar na raça, e é o que Foghat fez e muito bem feito nesse seu trabalho, que chegou a ganhar platina dupla pelas vendagens na época. O único ponto fraco desse álbum é sua quantidade de músicas: somente seis faixas clássicas, sendo que destas, duas são covers.

O álbum começa com o sucesso “Fool for the City”, com o vozeirão de Dave Peverett mandando muito bem e ótimos solos de Rod Price, principalmente o solo no final da música, bem longo, contagiante e com muito feeling. Aliás, o que esse Rod sola é brincadeira, mesmo após mais de vinte anos seu trabalho na guitarra ainda mantém um frescor e tanto. Todas as faixas do disco ele se sai muito bem, com a cozinha correndo atrás. Segue-se “Home in my Hand” entre assovios e muita agitação da platéia. A terceira faixa, “I Just Want to Make Love to You”, um cover de Willie Dixon, que acabou saindo bem mais pesado que o blues original. “Road Fever”, um verdadeiro arrasa-quarteirão rock n´roll com pitadas de blues, com os solos de Dave e Rod mais animais do disco, inclusive com slide guitar. Honey Hush, o segundo cover em que Foghat novamente transforma blues em puro peso e muitos solos cheios de agitação da platéia. Pobre baixista e baterista, os caras devem ter se acabado nesta canção para acompanhar as guitarras... E o disco termina em grande estilo com “Slow Ride”, um verdadeiro registro de uma apresentação animada e com muita participação do público.
Para encerrar, um último toque: se vocês apreciam “Made in Japan” do Deep Purple, Tokio Tapes do Scorpions ou Live at the Fillmore dos Allman Brothers, que são considerados por muitos como sendo a nata dos álbuns ao vivo nos anos 70, escutem esse Foghat Live, pois pode ser que alguns de vocês mudem de opinião.Compre.
Banda:
Craig MacGregor - Bass, Vocals
Lonesome Dave Peverett - Lead Vocals, Guitar
Roger Earl - Drums
Rod Price - Lead Guitar, Vocals

Músicas :
Foll fot the City
Home in my Hand
I Just Want to Make Love to You
Road Fever
Honey Hush
Slow Ride



DVD - Glenn Hughes - Soulfully Live in the City of Angels


Nota : 9,5
“The Voice of Rock!!!!!”. Este é o melhor adjetivo para caracterizar Mr. Hughes. O senhor que nos anos 70 conseguiu a façanha de substituir Roger Glover no Deep Purple, ajudando a inaugurar uma nova era para a banda (junto com David Coverdale e os demais integrantes), que antes integrou o lendário Trapeze, que passou por sérios problemas com drogas nos anos 80, prejudicando inclusive uma participação no Black Sabbath na época divulgando o álbum “Seventh Star”, e que se recuperou fantasticamente, cantando ainda mais do que nos anos 70 e fazendo cd’s de alto nível. Aproveitando toda essa bagagem musical, o mesmo registrou 11 faixas ao vivo no Sound Image Studio na Califórnia e lança este DVD.
Este DVD é cercado de vários aspectos interessantes: o primeiro é o fato do local ser um estúdio bem pequeno, com uma platéia reduzida, dando ao show um toque intimista, quase um ensaio com público. O segundo é a decoração do mesmo, com várias velas e uma tapeçaria de primeira, criando um ambiente agradabilíssimo. Gleen misturou faixas de seu período no Purple, alguma coisa do Trapeze e sua carreira solo.

 
Para tal empreitada Mr Hughes cercou-se de uma banda de fazer inveja: seu eterno comparsa JJ Marsh na guitarra, George Nastos também na guitarra, Ed Roth nos teclados, Chad Smith (Red Hot Chilli Peppers) na bateria e ainda se deu ao luxo de convidar Kevin Dubrow (Quiet Riot) e Alex Ligertwood para alguns backings e com a banda  tocando com muito peso. A bateria de Chad é segura e agressiva e os “riffs” de JJ são cortantes e  banda mostra estar azeitadíssima. “Can’t Stop the Flood” abre os trabalhos, seguidas por “Higher Place” e a cadenciada “Written All Over Your Face”. Mr Hughes continua cantando como sempre, ou seja, magnificamente.




Os destaques ficam para “Mistreated” (aonde Glenn dá um show nos vocais), “Meduza” e “Coast to Coast”, interpretadas com muita beleza pela banda. Por sinal todos estavam inspirados naquele dia. “You Keep On Moving” encerra o show com extrema competência. Hughes ainda se mostra cada vez melhor como baixista .
Como extras temos algumas entrevistas com Gleen e Kevin Dubrow, aonde ambos falam sobre o evento, mas infelizmente a falta de legendas prejudica um pouco a compreensão, sendo este o único ponto negativo do dvd, e uma interessante galeria de fotos.
Um DVD muito legal, principalmente pela proposta de um show inusitado, diferente do usual (Glenn poderia gravar um show com maior público mais optou por um ambiente bem mais “aconchegante”) e pela performance de todos, simplesmente matadora... se você conhece o significado do termo “Rock and Roll”, compre e fique com este dvd para toda a vida.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Blues Sobrenatural e o Melhor Guitarrista de Blues da Inglaterra.



Nota : 10
Acredito que as artes devam existir para mudar nossas vidas, assim como as de quem as produz. No caso da música isso fica mais explícito e existem vários músicos e bandas que conseguiram essa façanha durante suas carreiras.No caso do Blues , a minha opnião é que poucos músicos detém esta façanha e um deles sem a menor dúvida foi Peter Green. Green teve a difícil posição de tocar nos BluesBrakers de John Mayall , grande historiador e músico de Blues , que teve na sua banda os guitarristas Eric Clapton e Mick Taylor. Feito isso com grande profissionalismo Green pulou fora da banda de Mayall e junto com o baixista John Mcvie e encabeçaram a 1ª e clássica formação do Fleetwood Mac. Tendo um timbre gordo e limpo, dinâmicas radicais e entonação certeira fizeram que Green tivesse uma destreza com seu instrumento , uma Gibson Les Paul sunburst 1959 com um captador do braço invertido, timbre fora de fase, e um toque  e estilo mais melódico que nenhum guitarrista jamais tentou copiar , até porque ele iria morrer tentando copiar Green.


A formação completou-se com o vocalista e guitarrista Jeremy Spencer, fortemente influenciado por Elmore James e o baterista Mick Fleetwood. Apareceram pela primeira vez no British National Jazz & Blues Festival, em agosto daquele ano, com o nome de Peter Green’s Fleetwood Mac, assinando em seguida com o empresário/produtor de blues Mike Vernon, do selo Blue Horizon. Sinceramente não consigo destacar faixas desta pérola do Blues inglês , este seria o Santo Graal do Blues inglês em relação a timbre, pegadas e  interpretações das músicas.Pois aqui temos espalhados Bends Escalares de precisão cirurgica , danças de Double Stops , linhas de guitarra distorcidas e notemos os solos de Green se movendo de um grito seco e vazio para um som encharcado de reverb.


Mas infelizmente essa história do melhor guitarrista de Blues inglês , teve seus percalços e como já era esquizofrênico, o guitarrista começou a abusar do LSD, e seu estado foi ficando cada vez pior e num acesso de misticismo, ele resolveu deixar o grupo e a vida musical. Com sua estrutura profundamente abalada, o Fleetwood Mac se afastou por alguns meses. No ano seguinte, foi a vez de Jeremy Spencer; durante uma turnê pelos EUA, ele desapareceu em Los Angeles, sendo encontrado dias depois num templo da seita filhos de Deus, disposto a ficar por lá e abandonar a carreira musical. Enfim temos aqui uma produção que nada deixa a desejar , se você curte Blues tem um dos melhores discos já gravados do estilo , se sua praia são guitarristas , aqui tem um que vai te deixar lições eternas de como colorir com suas próprias cores o som da sua banda e se você tiver pensando em formar uma banda de Blues este é seu disco de cabeçeira . Compre , ouça e deixe que o Blues e Peter Green te levem para seus próprios mundos e te mostrem que o estilo que um dia foi cantado por escravos que colhiam algodão, é a base principal da música do século passado.

Músicas: 
01. My Heart Beats Like A Hammer
02. Merry Go Round
03. Long Grey Mare
04. Shake Your Moneymaker
05. Looking For Somebody
06. No Place To Go
07. My Baby's Good To Me
08. I Loved Another Woman
09. Cold Black Night
10. World Keeps On Turning, The
11. Got To Move

A Má Companhia do Rock e seu Debut - Bad Company - 1974


Após o encerramento das atividades do Free, poucos acreditavam que Paul Rodgers poderia lançar algo tão bom em tão pouco tempo. Pois  o processo que leva ao encerramento das atividades de uma banda é estressante, cansativo e avassalador, principalmente em um caso como o do Free, onde Rodgers, Kirke e Andy Fraser viram a amizade entre os integrantes ser devastada pela dependência química de Paul Kossoff.
De todo esse processo surgiu o Bad Company. Do Free vieram Paul Rodgers e Simon Kirke. Do Mott the Hoople veio o guitarrista Mick Ralphs, enquanto o King Crimson havia sido a banda anterior do baixista Boz Burrell. Essa formação fez com que a imprensa logo os rotulasse como um supergrupo, característica que ficou ainda mais forte após Peter Grant, o lendário empresário do Led Zeppelin, anunciar que também seria manager do grupo. Essa ponte entre as duas bandas fez com que o Bad Company fosse o primeiro contratado e lançasse o primeiro disco do Swan Song, o selo fundado pelo Zeppelin de chumbo.



  Lançado em 15 de junho de 1974, Bad Company foi um sucesso tremendo, com o álbum atingindo o primeiro posto nos charts da Billboard.
Realmente, as oito faixas que formam o álbum apresentam uma qualidade indiscutível. “Can´t Get Enough” é uma pedrada hard guiada pela guitarra de Ralphs; “Rock Steady” é um hard blues onde toda a banda se destaca, com destaque para Ralphs e para a magnífica interpretação de Rodgers; a balada “Ready for Love” se transformou em um dos maiores clássicos do grupo.Vimos aqui também uma produção muito bem feita e polida, a gravação e a mixagem muito bem feitas.





A música que dá nome ao grupo e ao disco, “Bad Company”, é uma densa balada blues que contém uma das melhores interpretações de toda a carreira de Paul Rodgers, um vocalista que deveria ser muito mais reconhecido do que é. Marca registrada da banda, até hoje é um dos pontos altos dos shows do conjunto. “The Way I Choose” revela momentos lindos em suas linhas vocais e em seu arranjo, emocionando todo e qualquer apreciador de música. O álbum fecha com o single “Movin´ On”, que traz enormes influências do Free, e a clássica “Seagull”, uma das mais emblemáticas composições do grupo. 
O disco foi gravado por altas doses de cocaína e álcool, briga pela escolha do nome da banda entre o vocalista e a gravadora que nunca concordou e achava que deveria ser mudado, mas Paul tanto bateu o pé que sua vontade se fez valer, seria o 1º disco gravado pelos ex integrantes do Free e havia muita expectativa sobre o resultado , pois é , o resultado é que trata - se de um dos melhores discos que ouvi e é um disco para toda a vida. 

Músicas:
1. Can't Get Enough - 4:16
2. Rock Steady - 3:47
3. Ready for Love - 5:02
4. Don't Let Me Down - 4:21

5. Bad Company - 4:50
6. The Way I Choose - 5:05
7. Movin' On - 3:24
8. Seagull - 4:02

 





  



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Milton Nascimento e Lô Borges - Clube da Esquina - 1972



Em 1970, Milton Nascimento já tinha quatro discos lançados e a fama de cantor e compositor fora de série . Só que, em vez de partir para mais um álbum de composições próprias, ele resolveu dividir a criação e deixar sua música ser inseminada por outras cabeças.
Milton convidou o amigo Lô Borges, que conheceu ainda criança em Belo Horizonte, para dividir as composições. Ele sabia que podia confiar no taco beatlemaníaco do rapaz, pois tinha gravado três músicas de Lô no disco anterior, Milton.
 Em uma casa alugada na praia de Piratininga, em Niterói, Milton e Lô passaram um ano e meio compondo e recebendo a visita de amigos letristas como : Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Márcio Borges e o músico  Beto Guedes.
As músicas foram gravadas nos estúdios da Odeon no Rio, "tudo ao vivo, só com os vocais colocados mais tarde", como contou Lô. As ideias e os arranjos iam surgindo no estúdio. Todos davam palpites, inclusive os letristas. O resultado desse esforço coletivo chegou às lojas no auge dos tempos barra-pesada da Ditadura e, segundo Lô, foi recebido com frieza: "Diziam que era música de uns caras que tocavam violão, olhavam para as montanhas e falavam de nuvens e céu azul".
Clube da Esquina é tido como o disco que lançou o som e a turma dos "mineiros" (de fato, ele envolve Lô, Beto, Toninho Horta, Nelson Ângelo, Tavito e um monte de músicos de lá), mas a "mineirice" de Clube da Esquina não está em supostas raízes ou ritmos folclóricos. Está na tradição de juntar uma galera num boteco, ouvir e falar de Beatles, rock progressivo, tocar violão e  olhar para as montanhas.
A voz abençoada de Milton, o mistério das letras e as levadas folk rock piraram a cabeça da rapaziada da época, e a versão em CD, lançada 20 anos mais tarde, foi recebida como um tesouro no Japão (onde existe o Fã-Clube da Esquina), na Europa e nos EUA.
A mistura de baladas beatle e MPB com sabor afro-latino soa muito bem. Ainda mais nas
canções sensacionais de Milton (como "San Vicente", "Cravo e Canela", "Nada Será Como Antes") e Lô (Tom Jobim era fã de "Trem Azul", David Byrne de "Um Girassol da Cor de seu Cabelo").

A casa na praia em Niterói, em que brotaram essas músicas, deveria ser tombada e ter uma placa: "Aqui nasceu um dos discos mais influentes, e na opnião desse que vos escreve, o mais bonito da MPB."
Disco para toda a vida.
Faixas:
1  - Tudo Que Você Podia Ser 2:57
2  - Cais 2:45
3  - O Trem Azul 4:05
4  - Saídas e Bandeiras nº 1 0:45
5 - Nuvem Cigana 2:59
6  - Cravo e Canela 2:31
B1  - Dos Cruces 5:22
B2  - Um Girassol da Cor de Seu Cabelo 4:12
B3  - San Vicente 2:46
B4  - Estrelas 0:28
B5 - Clube da Esquina  3:38
C1  - Paisagem na Janela 2:58
C2  - Me Deixa em Paz 3:05
C3  - Os Povos 4:30
C4 - Saídas e Bandeiras nº 2 1:30
C5  - Um Gosto de Sol 4:20
D1 - Pelo Amor de Deus 2:06
D2 - Lilia 2:33
D3 - Trem de Doido 3:58
D4 - Nada Será Como Antes 3:23
D5 - Ao Que Vai Nascer 3:20


 

domingo, 16 de outubro de 2011

Quando o Jethro Tull foi para a Floresta e Gravou Songs From The Wood - 1977



Songs From The Wood têm em sua sonoridade elementos mais Folk e Hard Rock do que do próprio Progressivo, e mesmo assim mantêm em sua essência várias características Prog.Não há influências do barroco, por exemplo, que influênciou álbuns como o Benefit.Apesar de possuir faixas mais curtas que a maioria dos álbuns do Jethro Tull, esté é com certeza um dos mais clássicos da discografia desta grande banda.A sonoridade de Songs, remete a florestas e fazendas,pois cansado do mainstream e do alvoroço que o disco anterior havia alçado,Ian Anderson e sua trupe se escondem pelas florestas  inglesas.



Songs From The Wood - O disco já abre com a faixa-título, uma das que mais possuem variações no álbum. Ela inicia com um coral que repete os versos de Anderson. Ao longo da faixa você vai se deparar com vários temas cheios de flautas harmoniosas e pianos discretos porém notáveis.
Jack-In-The-Green - A mais curta do disco é uma faixa relativamente simples, mas muito carismática. Todos os instrumentos da faixa foram tocados por Anderson, que fez a formula "violão-e-voz" funcionar melhor aqui.
Cup of Wonder - Um dos grandes clássicos do Jethro Tull. Nota-se um total entrosamento entre os integrantes, com flauta, guitarra e tudo o mais em harmonia, principalmente no trecho instrumental, que antecede a última estrofe.
Hunting Girl - Mais agressiva que as faixas anteriores. A faixa tem um tema central num estilo meio medieval que soa bem chamativo.
Ring Out, Soltisce Bells - Tem um ritmo de celebração, que a faz soar adorável. Ring Out.. tem um dos mais belos refrões que já ouvi. Em certo ponto, ao invés de voltar ao tema central, o refrão finaliza dando a deixa para uma melodia belissíma, com ecos nos vocais e um solo de piano rápido, mas notável. Após isso, retorna-se mais uma estrofe com a melodia principal seguida pelo último refrão, agora com sinos, fazendo juz ao nome. Os sinos acompanham o final em fade, aqui isso soa muito bem.

Velvet Green - Outro tema medieval. Após algumas estrofres com essa melodia, entra uma outra completamente diferente, que dá um charme todo especial a música. Após o terminio deste, ouve-se um "one, two three, four!" seguido por um trecho onde todos os instrumentos unem-se numa só melodia.
The Whistler -  Apesar de sua simplicidade aparente causa pelo seu tema central no violão, aqui oculta-se uma composição maravilhosa.
Pibroch (Cap In Hand) - A mais longa do álbum. Seu riff de guitarra inicial, que repete-se várias vezes, é bem pesado, ao contrário do tema central, quase melancólico. O ponto alto que é o exaltado solo de flauta, que chega a soar meio exibicionista, mas que adiciona muito a canção.
Fire At Midnight - O álbum encerra com uma balada sem igual, deliciosa.Simples e direta.
Songs From The Wood é um item obrigátorio pra quem curte a junção de rock com folk, misturadas a pitadas geniais de Ian e sua banda, que lançam mais um disco que tem de estar na sua prateleira.