domingo, 9 de outubro de 2011

Buddy Guy - Stone Crazy


Nota : 10

Buddy Guy, para mim, é o autêntico responsável pela transição do blues tradicional para o blues moderno. Ele adotou tecnologias sem medo, potencializou o som de sua guitarra, que tem voz própria, identificável à distância, apurou o vocal de shouter e tem uma performance dinâmica e explosiva, sem perder um só segundo a linguagem primordial do blues. Como influência confessa de Jimi Hendrix, ele tem trânsito livre com o pessoal do rock. Depois de gravar com B. B. King e voltar a Robert Johnson. Passadas as mortes recentes de John Lee Hooker, Stevie Ray Vaughan e Junior Wells, Buddy Guy, com B. B. King, Otis Rush, e uns poucos, apresenta-se como um dos últimos de uma época e linhagem nobre do Blues.


O que me leva a ressaltar a importância de Stone Crazy!, ainda hoje o meu disco preferido de Buddy Guy, lançado em 1981 pela célebre Alligator Records.
 "I Smell a Rat", de 9 minutos e meio, pega o ouvinte pelo pescoço. Começa com um urro de Buddy Guy e um imediato solo desenfreado de uma guitarra possessa e desequilibrada. Quando Buddy Guy começa a cantar, é a guitarra do irmão, Phil Guy, que segura o dedilhado e toda a base em todo o disco, para ele alçar vôo tranqüilo.É bom lembrar que a banda enxuta se sustenta em J. W. Williams (baixo) e Ray Allison (bateria). A produção é de Didier Tricard.
São 6 faixas, distribuídas ao longo de pouco mais de 40 minutos, como nos tempos originais do LP. Tudo fruto de uma urgência selvagem e de uma aspereza inqualificáveis. "Are You Losing Your Mind?", pergunta ele na 2a faixa. A resposta é sim, se você continuar espancando a guitarra desse jeito. Buddy Guy solta uivos enquanto sola, exatamente como no palco, onde a posição do microfone não é marca fundamental para mantê-lo parado. A voz atinge graus elevados de convicção absoluta.

O que temos em Stone Crazy! é um músico extraordinário e um cantor arrebatado pelo blues, incapaz de conter o jorro da adrenalina. Se ele não consegue, por que eu deveria? Experimente você. A menor faixa do disco, "She's Out There Somewhere", dura 4 minutos e 26 segundos. parece que dou muita importância ao cronômetro. Não é verdade. Eu só quero dizer que esse tempo todo é gasto em descargas de alta voltagem, sem nenhuma excrescência. "Outskirts Of Town", que mais se aproxima da idéia pré-concebida que a maioria tem de um blues, por ser lenta e chorosa, transborda urbanidade cosmopolita e desesperada.


Stone Crazy! oscila, em suas características, do silêncio ao barulho enfezado. "When I Left Home" vai do gemido ao grito sem escalas intermediárias. Buddy Guy persegue extremos como não o vi perseguir em outros títulos com tamanhas entrega, sem se poupar. Há passagens em que Stone Crazy! se assemelha a um ensaio da banda, com Allison pontuando as lafas e enfatizando as explosões. Termina com Buddy Guy, num lamento onomatopaico ou péico ou o raio que o parta. Shit! Se eu estou triste, Stone Crazy! levanta meu astral, e se estou alegre, o disco mejoga ainda mais para cima. Disco para toda a vida.






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