Nota : 9,0
Uli Jon Roth é um músico único que acabou tornando o Scorpions uma banda respeitada . Muito do reconhecimento que o Scorpions obteve nos anos 1970 é creditado ao alemão Uli Jon Roth e toda sua paixão pelas guitarras viajantes, tão influenciadas pelo mestre Hendrix. Apesar de sua carreira pós-Scorpions não atingir estrondoso sucesso comercial – não que Uli se importasse com isso, dada sua conhecida aversão pelo mundo dos negócios e o tão ambicioso estilo de vida dos chamados 'rock stars' – sua técnica, criatividade e apurado senso de melodia vem fazendo história há décadas e nem mesmo seu afastamento do cenário musical, que durou 13 anos, esmoreceu o respeito e fidelidade que conquistou por parte dos fãs. Após deixar a banda, Uli montou ainda em 1978 o Electric Sun, que lançou apenas três discos - "Earthquake" (1979), "Fire Wind" (1980) e "Beyond the Astral Skies" (1984) - e, desiludido com a indústria musical e mais interessado em desenvolver suas técnicas próprias em relação à guitarra, retirou-se da cena e entrou em uma espécie de auto-exílio.
trazendo consigo a incrível "Transcedental Sky Guitar", com sete cordas e três oitavas, construída e desenvolvida por ele mesmo, e explorando caminhos sonoros que uniram a sua paixão pela música clássica, o blues e a obra de seu maior ídolo, Jimi Hendrix.Este dvd contém a apresentação de Uli como headliner do festival de Castle Donington, o Rock & Blues Custom Show de 2001. Acompanhado por seu companheiro de Electric Sun Clive Bunker (bateria), Don Airey (teclados) e Barry Sparks (baixo), Uli está em excelente forma, e brinda a plateia (e aqueles que assistem posteriormente o DVD), com um espetáculo musical de extremo bom gosto.Uli contou também com a participação especial de Phil Mogg, Pete Way e Michael Schenker do UFO
O DVD começa com a instrumental "Trail in the Wind", mostrando uma coletânea de vídeos do show, bem como os músicos que participam do espetáculo, para então o apresentador animar a plateia e dar as boas vindas à Uli Jon Roth.Com a noite começando a baixar sobre as milhares de pessoas presentes no lugar, Uli detona os primeiros acordes da linda "Sky Overture", trajando sua tradicional faixa na cabeça e empunhando a famosa Sky Guitar. Com um arranjo clássico que ganhou muito com a participação de Airey, as escalas de Uli são complicadíssimas, e ele mostra para os Malmsteens da vida como empregar notas rápidas, alavancadas e bends no tempero certo, alternando momentos rápidos e outros lentos, tudo isso sempre com um sorriso no rosto, como se fosse natural executar aquelas intrincadas peças.
O show continua com um arranjo para o início do segundo movimento do Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, popularmente conhecido como "Adagio" , originalmente elaborado para violão e orquestra e que tem nessa segunda parte, chamada aqui de "Aranjuez", um duelo entre oboé e violão. Airey faz novamente um belo trabalho, executando as parte da orquestra enquanto Uli brinca na guitarra fazendo os lindos temas do oboé e do violão."The King Returns" mantém a linha clássica de Uli, novamente acompanhado por Airey, e tem como ponto máximo o belíssimo dueto de órgão e guitarra.
Após essa apresentação inicial de sua carreira solo, Uli chama ao palco os membros do UFO - Pete Way no baixo, Phil Moog nos vocais e Michael Schenker na guitarra. Aí começa a pauleira! Moog anuncia que vão voltar alguns anos no tempo, e "Let It Roll" é detonada nos amps. Sparks agora toca guitarra, enquanto Way corre por todo o pequeno palco. O primeiro solo é feito por Uli, e o duelo que leva para o solo de "Let It Roll" entre Uli e Schenker é fantástico. A parte lenta começa com o solo do gordíssimo Schenker, mas que apesar dos quilos acima está tocando como nos anos setenta com a sua Flying V. As intervenções de Uli tornam o solo de Schenker ainda mais bonito, e é impossível não se arrepiar com a qualidade sonora apresentada quando começa a alternância dos solos. A sequência final dos solos é de chorar, com ambos os guitarristas tocando as notas juntos, e trazendo a pauleira novamente.Outra canção do UFO é apresentada, agora a clássica das clássicas "Rock Bottom". Uma aula de guitarra é dada tanto por Uli quanto por Schenker . Uli puxa a canção, seguido por Schenker, Airey e os demais. Schenker executa o riff principal, seguido por Uli, enquanto Way pula feito um garoto no palco (é impressionante como o velhinho não perdeu a forma). Moog não está na melhor forma vocal, mas mesmo assim é o cara ideal para cantar essa, que é uma das melhores músicas de todos os tempos. Uli acompanha a melodia vocal da parte antes do solo, que é a prova clara da influência do UFO sobre Steve Harris .
O que vem a seguir é matador. Se o solo de Schenker sozinho já era fenomenal (que o diga o que está presente no maravilhoso álbum Strangers in the Night), imagine então acompanhado de Uli. Pois bem, Schenker começa o solo no seu melhor estilo, abusando de feeds e notas longas, mas claramente sem muita inspiração. Uli faz seu primeiro solo também sem muita inspiração, empregando bastante escalas clássicas. O que Schenker faz na guitarra a seguir é indescritível, uma sequência incrível de arpejos e notas rápidas, contrastando com a segunda sequência de Uli, repleta de notas. O dueto dos dois no tema final do solo é de chorar (de novo!). Notas reproduzidas igualmente e o crescendo da canção vão ganhando corpo, e Uli destrói as cordas da guitarra para encerrar a sequência com um solo magistral de Schenker quase ajoelhdo em frente aos amplificadores, enquanto todos da banda sorriem felizes pelo resgate deste grande guitarrista, que já passou por poucas e boas em sua carreira. O único porém é que Bunker não é Andy Parker (baterista do UFO) e, assim, o acompanhamento de bateria ficou aquém do que poderia ser, mas mesmo assim é muito bom.O debulhe de notas do encerramento do solo é executado identicamente por Uli e Schenker. Moog e Way puxam a plateia com os gritos de "rock bottom", voltando então ao riff principal e ao encerramento da letra e da canção, com Way apontando seu baixo para o público como se fosse uma metralhadora (outra das inspirações de Steve Harris), tirando a corrente do baixo e jogando o mesmo para cima, alucinado.
O público delira, mas o show não pode parar. Uli chama a lenda do rock Jack Bruce. Uli diz que é um prazer voltar aos anos sessenta para tocar alguns de seus sons favoritos e que foram escritos por Bruce. O primeiro deles: "Sunshine of Your Love". Um detalhe interessante é que não houve ensaio entre Bruce e a banda de Uli, então não se sabia o que esperar da apresentação do ex-baixista do Cream.Bruce brinca no baixo por alguns segundos, e Uli puxa o riff deste clássico, seguido por Bruce e Bunker, como um bom power trio. Que me perdoem os conhecedores e apaixonados por Clapton, mas o timbre de Uli está idêntico ao do deus da guitarra, e, colocando para um desavisado, certamente ele vai dizer que é o Cream que está tocando, principalmente por que o vocal de Bruce continua o mesmo dos anos 60. Uli dá o seu tempero para o solo, enquanto Bruce está alucinando pelo palco, girando e pulando com seu baixo sempre com aquele balanço de cabeça que o caracterizou no Cream.
A alegria estampada na cara de Uli é mantida para a execução de outro clássico, "White Room", agora contando com Airey novamente. O arrepiante riff introdutório traz os vocais de Bruce, e novamente é impossível não dizer que é o Cream que está tocando. Uli abusa do wah-wah como se o aparelho fosse uma jovem garotinha, e Bruce rasga a garganta como nos bons tempos.
impressionante como o timbre da Sky Guitar de Uli está diferente, principalmente por ele tocar nas casas mais baixas da guitarra, e isso fica comprovado no solo, onde novamente os dois gigantes lutam como gladiadores famintos pelo sangue do adversário. Uli começa em um estilo similar ao de Clapton, adotando posteriormente uma postura mais rothiana, enquanto o que Bruce está fazendo no baixo é assustador, tocando o instrumento como se fosse uma guitarrra, notas altas, notas baixas, bends e muito feeling. De tirar o chapéu! O sorriso nos rostos de Bruce e Uli é marcante, e é a prova clara do prazer que os músicos tem de estar no palco não pelo dinheiro, mas pelo amor à música.
Assim, ele apresenta para nós "All Along the Watchtower" (originalmente escrita por Bob Dylan), acompanhado novamente apenas por sua banda. Uli canta a letra de Dylan, mas seu ponto forte nunca foi o vocal e sim a guitarra, e o que ele faz em "All Along the Watchtower" é para Hendrix dizer amém ao aluno Roth, fazendo a guitarra chorar tal qual o deus negro, além de usar impecavelmente o wah-wah e fazer outras surpresas que prefiro deixar a curiosidade do leitor em buscar o que é. A prova final vem na segunda homenagem a Hendrix, a pérola "Little Wing". Em um ritmo um pouco mais rápido que a original, Uli executa o riff introdutório de forma impecável, e tendo a adição dos teclados de Airey a canção ganha um clima bem flower power. Os vocais de Uli novamente não são a parte mais importante, mas sim o solo, repleto de alavancadas e bends imortais, seguindo as melodias criadas por Hendrix, mas com toda a cadência que só Uli Roth consegue colocar. Quem é fã de Hendrix segure as lágrimas, pois cada nota de Uli solando com a ajuda do botão de volume é emocionante até mesmo para o guitarrista, que em um dos raros momentos do show esconde seu sorriso para um momento de concentração total. O encerramento do solo é demais com notas, acordes e arpejos sendo acumulados em poucos segundos, encerrando este clássico do rock.
O melhor de tudo ainda estava por vir. Uli sai do palco enquanto um dos apresentadores começa a instigar a plateia dizendo que ainda restam dois minutos para o encerramento do festival. Aos berros de "Uli! Uli! Uli!" o guitarrista volta ao palco, e começa a elaborar um pequeno improviso sob os aplausos da plateia, quando do nada Bunker, Airey e Bruce retornam ao palco. O que temos a seguir é um verdadeiro resgate dos tempos de Cream, e que foi chamada de "Fireworks Jam", já que é o momento de encerramento do festival, onde fogos são lançados para o público desfrutar o momento.Sem nenhum ensaio ou planejamento a jam começa a desenvolver-se sobre os solos de Uli, acompanhado por Airey e por um alucinado Bruce, que tenta de todas as formas superar Uli. Se no Cream Clapton ficava sério em seu canto tentando provar que era o máximo, aqui Bruce encontrou um ótimo parceiro, que abre sorrisos para o baixista e cede seu espaço por vários momentos, enquanto os fogos explodem no céu. Os dois minutos que o apresentador havia concedido acabam se tornando em uma deliciosa jam de quase treze, contando com passagens pelo tema de "Norweggian Wood" (Beatles) e um retorno ao tema de "Sunshine of Your Love", e que se encerram somente pela intervenção de um dos organizadores do evento, que sobe ao palco e grita nos ouvidos de Uli que está na hora de parar, o que deve ter sido muito frustante, pois a alucinação de todos no palco é enorme, já que todos estão de olhos fechados, com tímidos sorrisos e não dando a mínima bola para o tempo, somente curtindo cada segundo do que estão fazendo. Mas ainda tem os bônus. Antes, "Atlantis", de Jimi Hendrix, na versão de Uli que está no álbum Transcedental Sky Guitar, é a faixa que apresenta os créditos do DVD.
Nos bônus, duas canções que ficaram de fora da sequência, fazendo parte do salto que citei. A primeira é "Midnight Train", a qual foi executada apenas pelos integrantes do UFO juntos de Bunker e Airey, onde o destaque novamente é a energia de Way e os riffs de Schenker. E a segunda é nada mais nada menos que "Spoonful", com Bruce cantando outro grande clássico imortalizado pelo Cream ao lado de Uli e Bunker, em mais uma aula de Uli e Bruce duelando muito. Ainda nos bônus, fotos da apresentação e também a história de como ocorreu o espetáculo.
Enfim, pode ter faltado uma que outra canção, como "Hiroshima", e principalmente clássicos do Scorpions como "Hell Cat", "Fly to the Rainbow" e "Polar Nights", mas um DVD que traz uma variedade que vai do UFO para o Cream e coloca juntos Uli Jon Roth e Michael Schenker com certeza tem que estar na prateleira de todo colecionador, e em uma posição de fácil localização para ser colocado no aparelho quase todos os dias,pois trata - se de um dvd para toda a vida.