quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DVD - Uli Jon Roth - Legends of Rock: Live at Castle Donington (2001)


Nota : 9,0
Uli Jon Roth é um músico único que acabou  tornando o Scorpions uma banda respeitada . Muito do reconhecimento que o Scorpions obteve nos anos 1970 é creditado ao alemão Uli Jon Roth e toda sua paixão pelas guitarras viajantes, tão influenciadas pelo mestre Hendrix. Apesar de sua carreira pós-Scorpions não atingir estrondoso sucesso comercial – não que Uli se importasse com isso, dada sua conhecida aversão pelo mundo dos negócios e o tão ambicioso estilo de vida dos chamados 'rock stars' – sua técnica, criatividade e apurado senso de melodia vem fazendo história há décadas e nem mesmo seu afastamento do cenário musical, que durou 13 anos, esmoreceu o respeito e fidelidade que conquistou por parte dos fãs. Após deixar a banda, Uli montou ainda em 1978 o Electric Sun, que lançou apenas três discos - "Earthquake" (1979), "Fire Wind" (1980) e "Beyond the Astral Skies" (1984) - e, desiludido com a indústria musical e mais interessado em desenvolver suas técnicas próprias em relação à guitarra, retirou-se da cena e entrou em uma espécie de auto-exílio.

trazendo consigo a incrível "Transcedental Sky Guitar", com sete cordas e três oitavas, construída e desenvolvida por ele mesmo, e explorando caminhos sonoros que uniram a sua paixão pela música clássica, o blues e a obra de seu maior ídolo, Jimi Hendrix.Este dvd contém a apresentação de Uli como headliner do festival de Castle Donington, o Rock & Blues Custom Show de 2001. Acompanhado por seu companheiro de Electric Sun Clive Bunker (bateria), Don Airey (teclados) e Barry Sparks (baixo), Uli está em excelente forma, e brinda a plateia (e aqueles que assistem posteriormente o DVD), com um espetáculo musical de extremo bom gosto.Uli contou também com a participação especial de Phil Mogg, Pete Way e Michael Schenker do UFO e do não menos lendário Jack Bruce, baixista e vocalista do Cream.




O DVD começa com a instrumental "Trail in the Wind", mostrando uma coletânea de vídeos do show, bem como os músicos que participam do espetáculo, para então o apresentador animar a plateia e dar as boas vindas à Uli Jon Roth.Com a noite começando a baixar sobre as milhares de pessoas presentes no lugar, Uli detona os primeiros acordes da linda "Sky Overture", trajando sua tradicional faixa na cabeça e empunhando a famosa Sky Guitar. Com um arranjo clássico que ganhou muito com a participação de Airey, as escalas de Uli são complicadíssimas, e ele mostra para os Malmsteens da vida como empregar notas rápidas, alavancadas e bends no tempero certo, alternando momentos rápidos e outros lentos, tudo isso sempre com um sorriso no rosto, como se fosse natural executar aquelas intrincadas peças.
O show continua com um arranjo para o início do segundo movimento do Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, popularmente conhecido como "Adagio" , originalmente elaborado para violão e orquestra e que tem nessa segunda parte, chamada aqui de "Aranjuez", um duelo entre oboé e violão. Airey faz novamente um belo trabalho, executando as parte da orquestra enquanto Uli brinca na guitarra fazendo os lindos temas do oboé e do violão."The King Returns" mantém a linha clássica de Uli, novamente acompanhado por Airey, e tem como ponto máximo o belíssimo dueto de órgão e guitarra.

Após essa apresentação inicial de sua carreira solo, Uli chama ao palco os membros do UFO - Pete Way no baixo, Phil Moog nos vocais e Michael Schenker na guitarra. Aí começa a pauleira! Moog anuncia que vão voltar alguns anos no tempo, e "Let It Roll" é detonada nos amps. Sparks agora toca guitarra, enquanto Way corre por todo o pequeno palco. O primeiro solo é feito por Uli, e o duelo que leva para o solo de "Let It Roll" entre Uli e Schenker é fantástico. A parte lenta começa com o solo do gordíssimo Schenker, mas que apesar dos quilos acima está tocando como nos anos setenta com a sua Flying V. As intervenções de Uli tornam o solo de Schenker ainda mais bonito, e é impossível não se arrepiar com a qualidade sonora apresentada quando começa a alternância dos solos. A sequência final dos solos é de chorar, com ambos os guitarristas tocando as notas juntos, e trazendo a pauleira novamente.Outra canção do UFO é apresentada, agora a clássica das clássicas "Rock Bottom". Uma aula de guitarra é dada tanto por Uli quanto por Schenker . Uli puxa a canção, seguido por Schenker, Airey e os demais. Schenker executa o riff principal, seguido por Uli, enquanto Way pula feito um garoto no palco (é impressionante como o velhinho não perdeu a forma). Moog não está na melhor forma vocal, mas mesmo assim é o cara ideal para cantar essa, que é uma das melhores músicas de todos os tempos. Uli acompanha a melodia vocal da parte antes do solo, que é a prova clara da influência do UFO sobre Steve Harris .
O que vem a seguir é matador. Se o solo de Schenker sozinho já era fenomenal (que o diga o que está presente no maravilhoso álbum Strangers in the Night), imagine então acompanhado de Uli. Pois bem, Schenker começa o solo no seu melhor estilo, abusando de feeds e notas longas, mas claramente sem muita inspiração. Uli faz seu primeiro solo também sem muita inspiração, empregando bastante escalas clássicas. O que Schenker faz na guitarra a seguir é indescritível, uma sequência incrível de arpejos e notas rápidas, contrastando com a segunda sequência de Uli, repleta de notas. O dueto dos dois no tema final do solo é de chorar (de novo!). Notas reproduzidas igualmente e o crescendo da canção vão ganhando corpo, e Uli destrói as cordas da guitarra para encerrar a sequência com um solo magistral de Schenker quase ajoelhdo em frente aos amplificadores, enquanto todos da banda sorriem felizes pelo resgate deste grande guitarrista, que já passou por poucas e boas em sua carreira. O único porém é que Bunker não é Andy Parker (baterista do UFO) e, assim, o acompanhamento de bateria ficou aquém do que poderia ser, mas mesmo assim é muito bom.O debulhe de notas do encerramento do solo é executado identicamente por Uli e Schenker. Moog e Way puxam a plateia com os gritos de "rock bottom", voltando então ao riff principal e ao encerramento da letra e da canção, com Way apontando seu baixo para o público como se fosse uma metralhadora (outra das inspirações de Steve Harris), tirando a corrente do baixo e jogando o mesmo para cima, alucinado.

O público delira, mas o show não pode parar. Uli chama a lenda do rock Jack Bruce. Uli diz que é um prazer voltar aos anos sessenta para tocar alguns de seus sons favoritos e que foram escritos por Bruce. O primeiro deles: "Sunshine of Your Love". Um detalhe interessante é que não houve ensaio entre Bruce e a banda de Uli, então não se sabia o que esperar da apresentação do ex-baixista do Cream.Bruce brinca no baixo por alguns segundos, e Uli puxa o riff deste clássico, seguido por Bruce e Bunker, como um bom power trio. Que me perdoem os conhecedores e apaixonados por Clapton, mas o timbre de Uli está idêntico ao do deus da guitarra, e, colocando para um desavisado, certamente ele vai dizer que é o Cream que está tocando, principalmente por que o vocal de Bruce continua o mesmo dos anos 60. Uli dá o seu tempero para o solo, enquanto Bruce está alucinando pelo palco, girando e pulando com seu baixo sempre com aquele balanço de cabeça que o caracterizou no Cream.
A alegria estampada na cara de Uli é mantida para a execução de outro clássico, "White Room", agora contando com Airey novamente. O arrepiante riff introdutório traz os vocais de Bruce, e novamente é impossível não dizer que é o Cream que está tocando. Uli abusa do wah-wah como se o aparelho fosse uma jovem garotinha, e Bruce rasga a garganta como nos bons tempos.
 impressionante como o timbre da Sky Guitar de Uli está diferente, principalmente por ele tocar nas casas mais baixas da guitarra, e isso fica comprovado no solo, onde novamente os dois gigantes lutam como gladiadores famintos pelo sangue do adversário. Uli começa em um estilo similar ao de Clapton, adotando posteriormente uma postura mais rothiana, enquanto o que Bruce está fazendo no baixo é assustador, tocando o instrumento como se fosse uma guitarrra, notas altas, notas baixas, bends e muito feeling. De tirar o chapéu! O sorriso nos rostos de Bruce e Uli é marcante, e é a prova clara do prazer que os músicos tem de estar no palco não pelo dinheiro, mas pelo amor à música.
Assim, ele apresenta para nós "All Along the Watchtower" (originalmente escrita por Bob Dylan), acompanhado novamente apenas por sua banda. Uli canta a letra de Dylan, mas seu ponto forte nunca foi o vocal e sim a guitarra, e o que ele faz em "All Along the Watchtower" é para Hendrix dizer amém ao aluno Roth, fazendo a guitarra chorar tal qual o deus negro, além de usar impecavelmente o wah-wah e fazer outras surpresas que prefiro deixar a curiosidade do leitor em buscar o que é. A prova final vem na segunda homenagem a Hendrix, a pérola "Little Wing". Em um ritmo um pouco mais rápido que a original, Uli executa o riff introdutório de forma impecável, e tendo a adição dos teclados de Airey a canção ganha um clima bem flower power. Os vocais de Uli novamente não são a parte mais importante, mas sim o solo, repleto de alavancadas e bends imortais, seguindo as melodias criadas por Hendrix, mas com toda a cadência que só Uli Roth consegue colocar. Quem é fã de Hendrix segure as lágrimas, pois cada nota de Uli solando com a ajuda do botão de volume é emocionante até mesmo para o guitarrista, que em um dos raros momentos do show esconde seu sorriso para um momento de concentração total. O encerramento do solo é demais  com notas, acordes e arpejos sendo acumulados em poucos segundos, encerrando este clássico do rock.

O melhor de tudo ainda estava por vir. Uli sai do palco enquanto um dos apresentadores começa a instigar a plateia dizendo que ainda restam dois minutos para o encerramento do festival. Aos berros de "Uli! Uli! Uli!" o guitarrista volta ao palco, e começa a elaborar um pequeno improviso sob os aplausos da plateia, quando do nada Bunker, Airey e Bruce retornam ao palco. O que temos a seguir é um verdadeiro resgate dos tempos de Cream, e que foi chamada de "Fireworks Jam", já que é o momento de encerramento do festival, onde fogos são lançados para o público desfrutar o momento.Sem nenhum ensaio ou planejamento a jam começa a desenvolver-se sobre os solos de Uli, acompanhado por Airey e por um alucinado Bruce, que tenta de todas as formas superar Uli. Se no Cream Clapton ficava sério em seu canto tentando provar que era o máximo, aqui Bruce encontrou um ótimo parceiro, que abre sorrisos para o baixista e cede seu espaço por vários momentos, enquanto os fogos explodem no céu. Os dois minutos que o apresentador havia concedido acabam se tornando em uma deliciosa jam de quase treze, contando com passagens pelo tema de "Norweggian Wood" (Beatles) e um retorno ao tema de "Sunshine of Your Love", e que se encerram somente pela intervenção de um dos organizadores do evento, que sobe ao palco e grita nos ouvidos de Uli que está na hora de parar, o que deve ter sido muito frustante, pois a alucinação de todos no palco é enorme, já que todos estão de olhos fechados, com tímidos sorrisos e não dando a mínima bola para o tempo, somente curtindo cada segundo do que estão fazendo. Mas ainda tem os bônus. Antes, "Atlantis", de Jimi Hendrix, na versão de Uli que está no álbum Transcedental Sky Guitar, é a faixa que apresenta os créditos do DVD.
Nos bônus, duas canções que ficaram de fora da sequência, fazendo parte do salto que citei. A primeira é "Midnight Train", a qual foi executada apenas pelos integrantes do UFO juntos de Bunker e Airey, onde o destaque novamente é a energia de Way e os riffs de Schenker. E a segunda é nada mais nada menos que "Spoonful", com Bruce cantando outro grande clássico imortalizado pelo Cream ao lado de Uli e Bunker, em mais uma aula de Uli e Bruce duelando muito. Ainda nos bônus, fotos da apresentação e também a história de como ocorreu o espetáculo.
Enfim, pode ter faltado uma que outra canção, como "Hiroshima", e principalmente clássicos do Scorpions como "Hell Cat", "Fly to the Rainbow" e "Polar Nights", mas um DVD que traz uma variedade que vai do UFO para o Cream e coloca juntos Uli Jon Roth e Michael Schenker com certeza tem que estar na prateleira de todo colecionador, e em uma posição de fácil localização para ser colocado no aparelho quase todos os dias,pois trata - se de um dvd para toda a vida.













sábado, 24 de setembro de 2011

Ira! - Psicoacústica .





Em 1988, o cenário musical brasileiro vivia o auge da ressaca provocada pela explosão do dito Rock Nacional e pela euforia consumista decorrente do Plano Cruzado. 

Uma das bandas a perceber essa transformação foi o Ira!. Vindo de dois discos de indiscutível qualidade, aclamados pelo público e de uma vivência tumultuada com a crítica, o grupo apresentou um novo trabalho que surpreendeu a todos pela proposta inovadora que representava.usar sampler não era algo comum nos idos de 80, o que levou Nasi a procurar o cineasta Rogério Sganzerla para a liberação das frases de seu filme de estréia (O Bandido da Luz Vermelha) para as faixas "Rubro Zorro” e "Pegue Essa Arma”.
Psicoacústica tocou na ferida da cultura musical da época. Em sua concepção, apesar da curta duração , foi um disco muito bem produzido. Poucas vezes no rock nacional se viu tamanho entrosamento entre os integrantes de uma banda. A guitarra de Scandurra nunca esteve tão afiada. Jung não lembrava aquele que um dia fora renegado pelos Titãs sob a alegação de falta de pegada. Nasi e Gaspa, além de impecáveis em suas atribuições, traziam significativas mudanças nas técnicas de gravação. A produção escalada para o disco também se destacava.



A obra ficou marcada na história, no entanto, pela complexa conjunção melodia-letra, aliada ao forte teor crítico das canções proposto pelo grupo. Rubro Zorro, a faixa inicial é um grande exemplo. Baseada na história do Bandido da Luz Vermelha, famoso psicopata paulistano da década de 60, a música é de grande intensidade, recheada de efeitos sonoros retirados do filme-biografia do homenageado, além da impecável declamação de Nasi ao fundo, como se fosse um mantra a retratar a consciência do criminoso. Outro destaque é a faixa Receita Para Se Fazer Um Herói. De letra simples e irônica, é uma verdadeira receita para se transformar “um homem feito de nada como nós” em um mito. Uma mordaz crítica sócio-religiosa. Não foi por acaso a escolhida do grupo para ser reproduzida no disco “ao vivo MTV”. Críticas à Imprensa (Poder Sorriso e Fama), de cunho social (Pegue Esta Arma e Advogado do Diabo) e ao showbizz nacional da época (Manhãs de Domingo) também se fizeram presentes.


Contudo, a mais emblemática do álbum, e uma das mais incompreendidas da história da música nacional é Farto do Rock’n Roll. Verdadeira canção-desabafo, dona de uma letra direta, construída sobre um riff de Scandurra, retratando de forma nua e crua a saturação da fórmula roqueira nacional dos anos 80. Falando da busca de novas fontes de inspiração do grupo, a música apresentava um solo de scratch de Nasi – um dos primeiros da música brasileira – e o refrão grafado em letras maiúsculas no encarte do álbum (Fim de semana sim / Fim de semana não / Às vezes tudo bem / Às vezes sem razão / Já estou farto do Rock’n Roll). Uma verdadeira profecia sobre o cenário do showbizz nacional.

Talvez pelo cunho contestatório, a resposta dada ao álbum não foi a esperada. A crítica não compreendeu a proposta sugerida e o público não assimilou os novos rumos tomados pelo grupo.
Concluído, o trabalho não deixava dúvidas quanto aos méritos. Os problemas ao redor da obra, no entanto, foram vários. Primeiro: a gravadora não conseguiu achar uma música de trabalho. As faixas eram compridas e consideradas difíceis. A reflexiva "Pegue Essa Arma” foi a encarregada de puxar o disco e já determinou seu fracasso - apenas 50 mil cópias vendidas, 200 mil a menos que o antecessor Vivendo e Não Aprendendo.
Por ter antecipado tendências e reunir as melhores canções adultas da banda, o disco manteve seu frescor por todos esses anos. Jogou o Ira! no ostracismo, mas isso é só um porém. Nasi confirma: "Faríamos tudo de novo, nunca achamos que tínhamos dado uma bola fora".Compre .
 
 
 

A Família Novos Baianos e o disco Acabou Chorare



Um dos principais grupos do Brasil nos anos 70, os Novos Baianos acabaram tendo seu reconhecimento muito mais por um disco do que por sua discografia. Baby Consuelo (voz, percusão), Morais Moreira (violão, voz, que depois mudou para Moraes, com "e"), Paulinho Boca de Cantor (voz, percussão), Luiz Galvão (voz, poesia, inspiração), Pepeu Gomes (guitarra, bandolim, bandolim elétrico, órgão, percussão), Dadi (baixo), Jorginho (cavaquinho, cavaquinho elétrico, bateria), Baixinho (bateria, percussão), Bola (percussão) e Charles fizeram de sua música uma criativa mistura de afoxé, rock, samba, chorinho, bossa-nova, blues, frevo e música tradicional nordestina jamais vista e ouvida no país, e que muitos torcem o nariz sem ao menos se prestar a ouvir os LPs com atenção.
Esbanjando técnica, virtuosismo e criatividade peculiares ao som do grupo, com destaque principalmente para Dadi e Jorginho, dois monstros em qualquer um dos instrumentos que possuíssem em suas mãos.
Esse é aquele disco que podemos definir como ESSENCIAL e CLÁSSICO (sim, grafado com maiúsculas). O Novos Baianos foi apresentado a João Gilberto (segundo Galvão, João foi apresentado ao grupo) e acabou influenciando diretamente no processo de composição de Morais, Galvão (agora mais compositor que cantor) e Paulinho. Além disso, Jorginho passou a tocar cavaquinho, e Pepeu dedicou-se ao bandolim. O resultado: uma obra-prima, eleita pela revista Rolling Stone como o melhor álbum de música brasileira. Acabou Chorare é daqueles discos que você ouve, ouve, ouve e nunca enjoa, de tão gostoso, singelo e belo. Afinal, é difícil achar um disco que tenha como canções de abertura duas monumentais pérolas da música: "Brasil Pandeiro" e "Preta Pretinha".
 O Novos Baianos acham o som certo, que é a mistura do samba com música nordestina e rock. Engana-se quem pensa que o disco é somente samba. O rock está disponível em grandes doses, principalmente graças a entrada do agora A Cor do Som como banda de acompanhamento, mudando a parte instrumental do grupo, adicionando doses violentas de virtuosismo e genialidade.
 "Um Bilhete Prá Didi" é a que melhor expressa a importância da entrada de Pepeu, Jorginho e Dadi, sendo uma magnífica canção instrumental recheada de solos impressionantes através do duelo furioso entre cavaquinho e guitarra, onde Jorginho esbanja técnica tanto na bateria quanto no cavaquinho, e Pepeu é soberano nas seis cordas. Mais rock 'n' roll pode ser ouvido em "Tinindo Trincando", "A Menina Dança" e na linda "O Mistério do Planeta", com sessões marcadas, quebradas e com Pepeu como sempre, tocando demais. A bela faixa-título é uma poesia de Morais ao violão e voz, bem como "Swing de Campo Grande" e "Besta É Tu" são sambas de origem, brasileiros de nascença, respeitando a tradição dos nobres compositores dos morros cariocas. Mas, como eu disse, os maiores destaques são "Brasil Pandeiro" e "Preta Pretinha". A primeira, uma versão para a canção de Assis Valente, foi gravada por sugestão de João Gilberto, e se tornou o maior sucesso do grupo através de um samba simpático, com uma bela divisão vocal entre Paulinho, Baby e Morais, além de um espetáculo de solos feitos por Jorginho no cavaquinho e Pepeu no bandolim e violão. Já a segunda ganhou duas versões no LP, com a segunda sendo apenas a extraçao de um trecho da primeira, em uma longa canção com praticamente apenas dois acordes, em um dos crescendos mais impressionantes, delirantes e belos da música, que gravou para sempre na história da MPB a frase "abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer". Outro grande destaque é o encarte da versão original, em formato de livreto, apresentando muitas fotos, o que torna o LP ainda mais apetitoso. Disco para toda a vida.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Faith No More - The Real Thing - 1989











Na transição da avalanche do Guns N´Roses para a devastação do Nirvana, a biosfera pop foi assolada pela febre Faith No More. A década de 90 engatinhava quando o grupo californiano sugeriu uma opção viável - artística, estética e comercialmente - ao modelo personificado por Axl Rose. Antes de Kurt Cobain dominar a paisagem, Mike Patton tornou-se o cara a ser imitado e The Real Thing o som a ser perseguido.
Era o terceiro disco de uma banda que ameaçava decolar desde a boa receptividade do single "We Care a Lot", de
Introduce Yourself (1987). Para Patton, a estreia em uma formação que, por muito menos do que ele fazia à frente de seu outro grupo.


Do choque entre o vocalista e um baixista mandão (Billy Gould), um tecladista new wave (Roddy Bottum), um guitarrista heavy (Jim Martin) e um baterista tentacular (Mike Bordin) resultou uma sonoridade alérgica a rótulos. Funk metal, simplificou a coisa, escorado pelo peso quebrado de "Falling to Pieces", "From Out to Nowhere"e "Epic".


Mas o menu de The Real Thing oferece outros sabores. A versatilidade de Patton - ora debochado, melódico, feroz, ora canastrão, desafia e é desafiada pelos demais integrantes em "Underwater Love", "Surprise! You’re Dead" ou "Zombie Eaters". Funk, se possível. Pop, se necessário. Metal, de preferência.
Na época, Patton dizia imaginar o futuro mais com a cara de "Easy" (Commodores) do que da versão de "War Pigs" (Black Sabbath), gravada em
The Real Thing.  Igualmente brilhante e difícil a banda  fincou os pilares para a construção do nu metal com este grande disco, fazendo do mesmo um disco para toda a vida.




domingo, 18 de setembro de 2011

Gentle Giant - Free Hand - 1975



"Free hand" é considerado o album que mais vendeu no mundo e que de certa forma é bem possível que o GG estava pretendendo ter ambição de querer a partir daí "conquistar" o mundo com sua música. Uma ressalva no que diz a respeito de vendas do album: só pra se ter uma idéia em CD este album do GG foi realizado por 4 das 6 distribuidoras que comercializam este trabalho do grupo.
Com o sucesso de "Free hand" o GG realmente se equilibrou na sua ascenção comercial, porém as coisas não foram tão simples assim como eles haviam imaginado; eles tiveram que continuar trabalhando e viajando mundo afora numa excursão árdua na Europa e America do Norte (tendo o Canadá também incluso), mas independentemente das dificuldades que tinham o grupo continuou numa boa totalmente nivelado e equilibrado com o novo material e daquilo que já havia sido gravado desde quando eles surgiram no mercado fonográfico.  A banda ainda de qualquer maneira tem a sua complexidade ao caminho que geralmente trilhavam, mas observa-se que o conjunto parece ter refletido sobre aquilo que a indústria da música exigia . Pode não ser o maior album definitivo de rock progressivo, mas sem sombra de dúvidas "Free hand" ficou comercialmente acessível pelo menos para aquelas pessoas que seriam novos ouvintes desta banda estilo medieval. Por falar em medieval que ainda está presente neste album, a sonoridade também não se deixa levar com o renascentismo, algo muito incomum de bandas que fazem o estilo de folk-prog o que caracteriza "Free hand" um trabalho tão adorado para aquele público na época , e  incrivelmente das 7 faixas existentes apenas 3 delas foram inclusas no set-list do GG.



A produção foi feita novamente por Gary Martin do mesmo album anterior, "The power and the glory" (1.974) com o auxílio de Paul Northfield que já havia trabalhado com a cantora Roberta Flack e o ex-guitarrista e fundador do "Yes", Peter Banks em "The two sides of Peter Banks" (1.973). A arte gráfica partiu da idéia do GG com a colaboração de Richard Evans dando uma impressão de que o GG estava precisando se livrar de um conceito próprio para facilitar a outras pessoas também a terem possibilidades em receber satisfatoriamente a música do grupo em seus ouvidos e infiltrar em seus sentimentos.
 A versão em CD fez uma tiragem em que ocorre um erro gráfico de impressão do qual afirma que o album é de 1.972, sendo que na realidade é de 1.975 a gravação.


"Just the same" - faixa de abertura de do album "Free hand" foi colocada no set-list do GG nas apresentações ao vivo, alias as 3 primeiras faixas de "Free hand" são as únicas que impressionantemente aparecem aos palcos. Esta neste caso acabou por sendo utilizada até a turnê de 1.977 e foi empregada por um período como abertura nas apresentações  seguida da "Proclamation" do album "The power...". A faixa tem um pouquinho também do gênero funk com sessões de acordes um tanto repetidos num esquema um parecido como em "Proclamation". "Just the same" é uma faixa considerada favorita de boa parte do público do GG, só o início da mesma que apresenta um começo surpreendente com simples estalos de dedos provocando o ouvinte a também a fazer o mesmo (apesar de que aparenta ser de um ritmo 7/4) com canais de som que ficam numa alternância recebendo o teclado de Minnear numa repetência de acordes e recebendo também a guitarra de Green  e repentinamente entram o baixo e as baterias com o vocal de Derek que irá fazer 2 refrões com vários toques de sopros de saxofones, na parte solo instrumental a melodia é relativamente suave com a guitarra e depois vindo os sintetizadores quando é interrompido novamente pelo ritmo que iniciou a faixa e aí Derek parte para mais um terceiro refrão finalizando a música aos poucos deixando apenas os estalos dos dedos apenas.

"On reflection" - provavelmente esta é uma das faixas que tem o melhor momento de desenvoltura do GG deste album, alías do conjunto também. A faixa mostra que o conjunto tem um ótimo entrosamento entre os vocais de 4 dos 5 integrantes do GG, e o equilíbrio destes 4 vocais sendo executados é muito emocionante feito sobre a forma medieval. Acredita-se que o GG aqui neste caso tenha sido uma das pouqíssimas bandas contadas nos dedos (bandas de rock progressivo relacionado ao gênero sinfônico e folk) tenha feito algo parecido.   Vindo a segunda parte estará apenas Kerry cantando numa tranquilidade até que é conduzido apenas pelos instrumentos como o violino, flauta, vibrafone, e outros. A última parte recebe um riff de Green recebendo outros instrumentos da banda até possuir em conjunto as baterias de Weathers que só aparecerão nesta ocasião finalizando aos poucos a faixa.
"Free hand" - a faixa título se manteve no set-list do grupo até que eles finalizassem suas atividades em 1.980, sua última turnê. Ela também permanece como uma das faixas que resultaram um efeito muito esforçado do grupo no aspecto da forma como o album "Free hand" propunha ao público pela facilidade de ouvir.  Os teclados se tornam uma espécie de "enchimento" de vida no GG para esta música junto com os vocais um tanto "nervosos" de Derek (Minnear faz os vocais da sessão do meio da faixa). O estilo meio jazzístico é bombástico conforme vai se obtendo o crescimento da melodia e o mais interessante é que quando a banda entra na sessão mediana da faixa eles ficam numa espécie de orquestra como se estivessem tocando uma valsa (na parte do solo instrumental).



"Time to kill" -  é algo pelo visto daquilo que o GG já fez muito proximamente em "Working all day" em "Three friends" (1.972) e possivelmente nunca mais retornariam a fazer algo parecido já que comentado anteriormente o album aqui em questão é muito mais acessível no aspecto de sonoridade para um ouvinte. Curiosamente a faixa também se tornou coincidentemente uma das já elaboradas pelo grupo de rock progressivo "UK" no album de estréia "UK" (1.978). Apresenta também curiosamente no início efeitos sonoros de um jogo de video-game antes da febre da Atari. E pode se escutar alguns dos membros  gritando "Gol" quando antes fazem um ponto ao seu favor. Ao mesmo tempo também é um tanto agressiva com a entrada da guitarra junto com as baterias, mas aos poucos vai cedendo a sonoridade se tornando suave e melódia . O destaque vale ao baixo de Ray se variando em várias linhas conforme os temas que vão surgindo.
"His last voyage" -  Muito melodiosa, tranquila e algo já feito anteriormente como em "Aspirations" e/ou "No God´s man" do album anterior . Já na seção do meio da música se torna como se fosse uma melodia meio de estilo canon dividos os vocais em 3 partes , além disso apresenta também um notável solo de guitarra de Green. Tem como o vocal de Kerry Minnear sendo o principal e novamente o baixo também já surpreende o ouvinte em sua linha melódia junto com instrumentos de percussão.


"Talybont" - e a instrumental do album . Ficou moldada em um estilo bem do que é o GG, em forma medieval, longe de qualquer coisa que designe a palavra "pop" no meio cultural musical e sendo inclusive trabalhada de uma maneira muito simples e simpática.  Segundo a banda "Talybont" foi um pequeno aposento onde o baterista John Weathers viveu na Britânia. Outro detalhe seria que esta faixa seria feita para um filme retratando a estória de Robin Hood num suposto filme a ser lançado.

"Mobile" - a faixa retrata o sentimento do GG que tinham de insegurança e incerteza na vida da estrada da música. Esta música é um tanto interessante, apesar de ser agressiva musicalmente a sonoridade parece ser como se fosse de um estilo "punk-medieval" . A percussão pesada de Weathers provoca praticamente o clima deste resultado que encerra o album "Free hand".
 

Discos que Marcaram a Minha Vida - Jethro Tull - Benefit - 1970


Quando tava curtindo muito o rock progressivo , e ouvi falar na banda , corri atrás de seus discos .Nesta mesma época eu ainda tinha vitrola e comprava vinis , e eis que acho o disco que logo me marcou pela capa , com bonecos dos integrantes da banda numa casa de brinquedos sendo observados pelos integrantes . Mais e o som , bom pois trata - se de um dos discos mais pesados da banda , mas tem muito de folk , rock , blues , jazz, tudo que faz parte do caldeirão de Ian Anderson e sua trupe.
Depois de uma estréia blueseira e de um excelente segundo disco, onde o folk quase que predominou, o Jethro Tull lança seu terceiro álbum que, inexplicavelmente, não teve a aceitação que merecia... Mas se trata de um disco que eu classificaria como uma espécie de jazz rock folk progressivo, mas vai além de qualquer uma dessas definições. É uma obra única, diferente de tudo que se gravou antes, e eu diria depois também.

Depois de uma estréia blueseira e de um excelente segundo disco, onde o folk quase que predominou, o Jethro Tull lança seu terceiro álbum que, inexplicavelmente, não teve a aceitação que merecia... Mas se trata de um disco que eu classificaria como uma espécie de jazz rock folk progressivo, mas vai além de qualquer uma dessas definições. É uma obra única, diferente de tudo que se gravou antes, e eu diria depois também.


With You There to Help Me – O disco abre com umas risadas que remetem o ouvinte a uma floresta de gnomos. A batalha travada entre a flauta e a guitarra é uma das coisas mais geniais que a banda já fez, e o refrão dessa música é de uma nostalgia impressionante.

Nothing to Say – Uma música simples, mas com um clima magnífico, o Ian Anderson entoa a melodia como se fosse um hino, e a guitarra do Martin Barre dá o tom melancólico que a letra sugere.

Alive and Well and Living In – Chega a hora de John Evan mostrar seu talento nas teclas. Mais uma melodia simples, mas muito eficiente.

Son – Talvez a música mais progressiva do disco, com uma mudança de andamento surpreendente, e uma letra com um sarcasmo absolutamente genial.

For Michael Collins, Jeffrey And Me – Mais uma música nostálgica, com um refrão maravilhoso que fica dias reverberando na cabeça...

To Cry You A Song – Acredito que seja a música mais famosa do disco, junto com “Teacher”, que não aparece em todas as versões. Um riff excelente é repetido do início ao fim, intercalando com várias vozes (não sei se são dos membros da banda ou só a voz do Ian Anderson amontoada sobre ela mesmo...) e com solos perfeitos do Martin Barre.

A Time For Everything? – Musica forte, pesadona, deve ter influenciado muito metaleiro por aí... Poderosas incursões de flauta também.

Inside – Extraordinária interpretação vocal de Ian Anderson, assim como da flauta. O refrão não é repetido, o que dá vontade de voltar a agulha do toca discos.

Play In Time – Mais um metalzão setentista da melhor qualidade.

Sossity: You’re A Woman – Tudo se acalma, a banda parece que senta na grama e canta uma baladinha hippie. Mas é um ótimo encerramento, o tecladinho acompanha o vocal emocionado de Ian Anderson perfeitamente.

Benefit” não é um disco difícil, pelo contrário, é bastante gostável até. Melodias simples, sem exageros, letras acessíveis, algo filosóficas, mas muito assimiláveis. Na minha opinião, um disco perfeito, daqueles pra se ouvir do princípio ao fim. Compre o seu .















sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Judas Priest - Rising In The East - DVD


O show gravado neste DVD, no histórico Budokan completamente lotado e muito bem filmado e editado (nada muito rápido, conseguindo captar perfeitamente a performance da banda no palco), a única falha são as luzes (muito vermelhas) em determinados momentos, atrapalhando a qualidade da imagem. O som disponível em 5.1 e DTS é muito bom, com ótima mixagem e definição.
 E mais ainda, a prova de que os caras agora fazem um show, que se não é super energético, é capaz de emocionar platéias pelo mundo.

Quem não fica louco com músicas como “Eletric Eye”, “Metal Gods” e “Riding In The Wind”, que iniciam os trabalhos? A filmagem está excelente, e todos os efeitos de palco estão presentes: o olho, aonde Rob Halford faz sua primeira aparição, os elevados, o platô aonde ele “voa” na nova “Judas Rising” e a motocicleta em “Hell Bent For Leather”.


Se tudo isso não bastasse, os músicos parecem ainda ter energia para muitos e muitos anos. Glenn Tipton (guitarras), K.K. Downing (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) agitam durante toda apresentação, contagiando o público. Por outro lado, Rob Halford perdeu muito da sua forma física. Como nos shows por nosso país, o vocalista se movimenta muito pouco e parece bastante cansado em algumas músicas. Se ele não anda mais pelo palco como antigamente, sua voz também dá diversos sinais de cansaço, mas Halford não faz feio (principalmente se pensarmos no repertório), mesmo em músicas mais difíceis. O que vale nesse caso, principalmente, é a presença do “metal god” junto com seus companheiros de banda. Já é o suficiente pra qualquer fã ficar feliz.





A banda ainda reserva algumas surpresas , como “I´m A Rocker”, “Turbo Lover” e “Exciter”. De sons novos temos “Deal With The Devil”, “Revolution”, “Worth Fighting For” e “Hellrider”, que funcionam bem ao vivo. Além das obrigatórias “The Ripper”, “Painkiller”, “Living After Midnight” e “You´ve Got Another Thing Coming”.
É claro que o que disse anteriormente ainda vale para o DVD: Glenn Tipton, KK Downing e Ian Hill parecem colados no palco, mas mostram realmente estar se divertindo, enquanto Scott Travis destrói tudo na bateria. Rob Halford é o enigmático vocalista de sempre: voz fraca, desafinando em alguns momentos, mas soberbo em outros, como em “Riding On The Wind” e “Turbo Lover”. A filmagem previlegia vários ângulos do show, e vale o investimento. Se você assistiu e não curtiu junto, faça isso novamente pois este grande momento de uma grande e influente  banda  de heavy metal é para toda a vida.





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Rock , Ópera e Queen - A Night at the Opera



Imagine um disco excelente que é fechado, simplesmente, pela canção eleita na Inglaterra como a melhor do século. “Bohemian Rhapsody” é uma daquelas peças que não merecem menos que o título de obra-prima. Falar dela é cair no lugar comum e em adjetivos que não conseguem expressar o impacto que causou no mercado fonográfico mundial à época de seu lançamento. Para quem não conhece ou se lembra dela “Bohemian Rhapsody” é a música que toca no carro de Mike Myers em que todos cantam e fingem tocar instrumentos no filme “Quanto Mais Idiota Melhor”. O Queen lançava, em 1975, o seu primeiro disco a estourar no mundo inteiro. Produzido por Roy Thomas e pelo próprio grupo. Nos créditos, a mesma frase de sempre: No Synthesisers!

“A Night At The Opera” abria com um piano em clima meio operístico / meio Liberace, como que para justificar o nome do disco, fraseado pela guitarra gritante de Brian May. A música era “Death On Two Legs” , e trazia o cantor e pianista Freddie Mercury secundado pelos surpreendentes vocais dele mesmo, Brian May e Roger Taylor, fazendo várias vozes sobrepostas (overdub). Esse recurso, que já havia sido utilizado por eles antes, iria ser explorado à exaustão em todo o disco e passaria a ser uma das marcas registradas do Queen em todos os seus trabalhos.
Um clima de vaudeville com pitadas das operetas britânicas de Gilbert & Sullivan vinha a seguir com a divertida “Lazing On A Sunday Afternoon” (Mercury), onde sua voz, modificada tecnicamente, fazia lembrar o som de um velho disco. Emendado, tínhamos o peso do rock calcado em guitarras cheias de overdrive numa letra machista, bizarra e ao mesmo tempo engraçada, com o vocal mais áspero de Roger em “I’m In Love With My Car” . Para contrapor o peso da guitarra, a próxima música trazia o piano elétrico com seu autor, o baixista John Deacon, em versos apaixonados de “You’re My Best Friend”, findando com a guitarra de May. O guitarrista, por sinal, era o centro da música seguinte, “’39”, na qual, além de ser o autor, cantava e tocava violão e guitarra, acompanhado pelo grande contrabaixo de orquestra de Deacon e uma percussão feita apenas por bumbo e pandeiro de Taylor. Trazia os vocais de fundo mais simples do disco (em uma passagem, levemente distorcidos), mas a própria beleza da composição justificava o arranjo simples e tocante.

As duas músicas que fechavam o lado A eram de Mercury: “Sweet Lady” e “Seaside Rendezvous”. A primeira refletia o clima e arranjos do álbum anterior, “Sheer Heart Attack”, onde guitarra baixo e bateria fundamentavam os vocais de Freddie Mercury, enquanto a segunda trazia o mesmo clima de “Lazing On...”, onde o piano se destaca, mas os recursos são outros, como assobios e efeitos de vocais imitando instrumentos de sopro, arranjados por Taylor e Mercury.
O clima pesado criado pelo silêncio e ruídos de vento, pontilhados no violão e por um koto (instrumento tradicional japonês) de brinquedo nas mão de May iniciavam o lado B. “The Prophet’s Song” (May) tem os versos mais impressionantes de um disco repleto de letras brilhantes. Em seus mais de 8 minutos ela prepara, como seu nome já diz, o ouvinte para o grand finale do disco, quase que profeticamente (o trocadilho é proposital).
O miolo deste lado é composto de duas músicas, uma de Mercury e outra de May. A primeira viria a se tornar um de seus maiores sucessos, “Love Of My Life”, cuja versão ao vivo chegaria ao primeiro lugar no Brasil (um dos melhores mercados e públicos do Queen) e digna de figurar na coletânea Greatest Hits. “Good Company” é uma composição que tem a cara de May; nela, além dos vocais, ele ainda toca ukelele havaiano (instrumento similar ao nosso cavaquinho) e imitva uma Jazz Band na guitarra.
Iniciando apenas com vocais e piano ao melhor estilo do grupo, abusando do estéreo em toda a faixa, “Bohemian Rhapsody” tem uma letra que se propõe a contar uma história trágica, porém com brincadeiras verbais como “Scaramouch will you do the fandango” ou Gallileo, Gallileo, figaro magnifico”. Todas – e são todas mesmo – as características que fizeram do Queen um dos grandes nomes do rock estão lá, da suavidade de versos sussurrados por Freddie Mercury como “Nothing really matters, nothing really matters to me, anyway the wind blows...” aos gritos de “So you think you can stone and spit my eyes”, o excelente trabalho de bateria onde os pratos se destacam em climas mais densos de Roger Taylor, o baixo Fender Precision sem firulas e exato de John Deacon e, acima de tudo, pari passu com os vocais de Mercury, a guitarra de Brian May.
O final, na verdade, do disco é uma vinheta instrumental com toda a pompa e circunstância protocolares, onde o Queen dá sua versão do hino britânico, “God Save The Queen”. Assim termina um disco que na minha opnião é uma referência eterna de como se fazer rock , de uma produção perfeita em tudo , nos volumes dos instrumentos, nos timbres, na mixagem , masterização e mostra que o Queen é uma banda que nunca será imitada por ninguém.Disco para toda a vida. Pra quem curte eu indico o dvd da coleção Classic Albuns , onde os integrantes e o produtor falam sobre as gravações desta obra prima.










domingo, 11 de setembro de 2011

Megadeth - Killing is My Business , and Business Is Good ! - 1985



 um dos debuts mais inspirados do Thrash Metal norte americano (provavelmente o melhor debut de todos até hoje!), lançado a 12 de Junho de 1985 – sim, o primeiro álbum de estúdio do Megadeth é tudo isso! Ainda com o “sangue nos zóio” por ter sido chutado do Metallica, o vocalista/guitarrista Dave Mustaine compôs algo que de fato acabou sendo muito mais “cru” e visceral do que Kill ‘Em All (o primeiro de estúdio do Metallica) e menos cuidado do que os demais debuts do Thrash norte americano no que se refere à produção ou mesmo ao “despojo” com que a banda o tocou, mesmo contando com uma pegada mais “bluesy” adicionada pelos amigos Chris Poland (guitarrista) e Gar Samuelson (baterista). É impressionante aliás como o álbum, mesmo tão sujo e pesado consegue transparecer uma incrível qualidade técnica oriunda dos respectivos membros da banda, levando em conta que os mesmos membros (ou melhor, pelo menos os que iam permanecendo na banda ao longo dos anos...) iriam ainda evoluir muito como músicos, letristas e compositores. O álbum começa com Last Rites/Loved To Deth, que nos mostra o que está por vir com sua levada insana e sua letra que fala sobre relacionamentos amorosos. Depois temos ainda a faixa-título Killing Is My Business... And Business Is Good!, que fala sobre uma espécie de um justiceiro caçador de recompensas, e a terceira faixa The Skull Beneath The Skin, que por sua vez seria uma espécie de apresentação ao mascote da banda Vic Rattlehead. Por sinal Rattlehead é o nome da quinta faixa, rápida e feita pra banguear feito um louco! Porém antes dela temos uma regravação de uma faixa da cantora Nancy Sinatra chamada These Boots Are Made For Walkiing (abreviada para These Boots nessa versão).
Vamos então à sexta faixa do álbum chamada Chosen Ones, que por sua vez tem uma cativante levada extremamente inspirada na sonoridade das bandas da NWOBHM – só que muito mais tosco, claro! E também rumamos ao momento épico do álbum com a sétima faixa Looking Down The Cross – provavelmente a mais “trampada” do álbum, e por fim temos a derradeira faixa The Mechanix, que nada mais é do que a versão original da faixa The Four Horsemen do Metallica (faixa essa obviamente escrita pelo próprio Mustaine na época, mesmo que esteja creditada como se os outros membros do Metallica sendo seus “co-autores”) , só que ela desde o começo mostra como a The Four Horsemen deveria ter sido: tosca e frenética ao invés de trabalhada e centrada.



Incomoda também a falta de bonus tracks, pois este álbum foi relançado há algum tempo lá fora com várias bônus e encarte aditivado, então porquê o lançamento brasileiro tão cru? Perguntas que ficam no ar. No final, temos apenas 27 minutos de thrash metal.
“Killing Is My Business... And Business Is Good!” é um bom início, mas não o ápice da banda, que se solidificaria e refinaria sua técnica nos anos seguintes.
Apesar dos “contras”, este álbum está cheio de peculiaridades, e seus agradecimentos é um dos momentos mais curiosos, ali está explícito o sentimento do grupo (ou seria Mustaine?) ao ver seu primeiro filho ir ao mundo. Compre o seu .

Formação:
Dave Mustaine (Vocal/Guitarra)
Chris Polland (Guitarra)
David Ellefson (Baixo)
Gar Samuelson (Bateria)





sábado, 10 de setembro de 2011

Quando o Punk Atingiu Seu Ápice ...


O Clash surgira na primeira hora do verão londrino de 1976, reunindo Joe Strummer, com uma carreira de performances no metrô e à frente de uma banda de pubs (os 101'ers); Paul Simonon, um estudante de arte que jamais havia pegado num baixo; e Mick Jones, que também vinha da cena de pubs. Primeiro Tory Crimes, e depois com Topper Headon na bateria (e por pouco tempo com o guitarrista Keith Levene, futuro PIL, completando um quinteto), o Clash abriu concertos dos Pistols em 1976 e, um ano depois, assinou um contrato vultoso para a época, com duzentos mil dólares de adiantamento. 
Não possuir um empresário que lhe ditasse o que fazer permitiu ao Clash uma liberdade musical jamais vista em outra banda punk, aliás poucas bandas experimentaram tamanha variedade sonora na história do Rock. Esta obra-prima do Clash tem um pouco de tudo do que já havia sido feito no Rock: Punk, Rockabilly, Jazz, Blues, Hard Rock, New Wave, Pop, Ska e Reggae. A sonoridade deste disco seria o suficiente para o colocar entre os maiores já feitos em toda a história do Rock, porém a banda ainda não satisfeita com isso deu origem aos mais bem elaborados versos de protesto já feitos no Rock mundial. Aliás que outra banda teria genialidade suficiente para rimar grateful, breakfast com paid for e feckless, ou ainda citar grandes gênios como Federico Lorca em suas composições? A crítica dita especializada da época que sempre torcia o nariz para as bandas de Punk Rock, teve de se render à genialidade deste disco, ao seu engajamento social, a sua sonoridade e acima de tudo ao talento inegável dos membros do Clash.
Esse disco é uma referência do estilo, um ícone da época em que foi lançado e um divisor de águas dentro do mundo da música. Uma obra perfeita que deve ser apreciada por todos.


Os dois primeiros discos desse contrato, The Clash (1977) e Give'Em Enough Rope (1978) - já revelavam claramente o que o Clash pretendia: de dentro da barragem alucinante de decibéis erguida por Jones, Strummer cantava articuladamente uma inquietação social e política que os Pistols conheciam, mas tratavam com um ódio brutal e amorfo. Mas, na época, a forma triunfou sobre o conteúdo, iludindo a todos, sem sequer antecipar o que seria London Calling.
A arte gráfica da capa do álbum é um caso a parte nesta obra-prima e remete ao não menos clássico “Elvis Presley” de 1956 um dos maiores trabalhos daquele que é tido por muitos como o rei do rock. A foto na capa é do baixista Paul Simonon destruindo o seu baixo em uma de suas apresentações em Nova Iorque. Como quase toda grande obra musical o impacto foi pouco sentido na época, porém com o passar dos anos “London Calling” se mostrou um dos álbuns mais influenciadores da história do Rock, influenciando desde artistas internacionais.
Lançado em meados de 1979, o disco foi um clarão de lucidez e coerência que nem o rock nem o Clash conheceriam depois. As dezenove faixas do álbum duplo - a última, "Train in Vain", não está creditada na capa - interligam-se para formar ao mesmo tempo um painel da Inglatera sobre Margaret Thatcher - relutantemente multirracial, bacia de fermentação de ódios e frustrações - e de um mundo apenas aparentemente sob controle, mas impulsionado por armas, drogas e guerras sob encomenda. A música tem uma riqueza de texturas que o punk desconhecia. O Clash canta o ska e o reggae pesado da Londres negra ("The Guns of Brixton", "Rudie Can't Fail". "Wrong Em Boyo") e puxa o longo fio ancestral que vai até os anos cinquenta ("Brand New Cadillac") e o jazz ("Jimmy Jazz").


“Clampdown” é um verdadeira porrada no orgulho do capitalismo, uma das canções de protesto mais explosivas da história da música que não perdoa ninguém, seja governos corruptos e injustos ou as selvagens “leis” que regem o sistema capitalista, um dos maiores destaques do álbum. “Guns Of Brixton” traz uma forte crítica social, tendo como base o violento bairro londrino de Brixton. Apesar disso a canção tem uma batida Reggae contagiante, elaborada pelo baixista Paul Simonon, com destaque para o baixo e para a bateria marcantes. “Wrong’Em Boyo” é um Ska dançante, que dá sequência ao clima criado pela canção anterior, com arranjos simplesmente geniais com destaque para o saxofone e o órgão. “Death Or Glory” é um Hard rock direto, uma sonoridade até então incomum e novidade para uma banda de punk. “Koka Kola” traz mais uma vez uma forte crítica ao sistema capitalista e aos inclusos nele, o título da canção refere-se a empresa de mesmo nome que é um dos maiores símbolos do capitalismo ianque. “The Card Cheat” é outro Hard Rock, cujo destaque fica por conta da fantástica introdução com piano, baixo e bateria. “Lovers Rock” é vez do romantismo dar as caras no disco, rock simples, direto e descompromissado. “Four Horsemen” traz uma das melodias mais fracas de todo o disco que dá uma melhorada no refrão, a mais fraca em todo o disco, mas ainda sim uma grande canção. “I’m Not Down” traz uma melodia contagiante e vocal de Mick Love está sensacional, faixa mas enérgica que a anterior e que dá uma grande elevada na qualidade do álbum. “Revolution Rock” mostra mais uma vez a criatividade melódica da banda, e apesar do título traz uma batida cadenciada típica do Reggae. E assim esses 4 músicos participam do auge de um estilo , coisa pra poucos independendo do estilo musical, e concebem um disco para toda a vida.
 
Formação:
Mick Jones – guitarra, vocal
Joe Strummer – guitarra, vocal
Paul Simonon – baixo, vocal
Topper Headon – bateria, percussão 

Faixas:
1. London Calling
2. Brand New Cadillac
3. Jimmy Jazz
4. Hateful
5. Rudie Can´t Fail
6. Spanish Bombs
7. The Right Profile
8. Lost in the Supermarket
9. Clampdown
10. The Guns of Brixton
11. Wrong ´Em Boyo
12. Death or Glory
13. Koka Kola
14. The Card Cheat
15. Lover´s Rock
16. Four Horsemen
17. I´m Not Down
18. Revolution Rock
19. Train in Vain











 
 

Billy Cobhan - Spectrum - 1973


O panamense Billy Cobham já havia adquirido grande respeito desde suas sessões com Miles Davis, em seu revolucionário "Bitches Brew", mas o grande estrondo veio com a Mahavishnu Orchestra, que fez dele um nome super cotado entre músicos de diversos gêneros musicais, no início dos anos 70.
A merecida popularidade ajudou-o a lançar esse seu primeiro álbum solo, em 1973. Músicas envolventes, arranjos complexos, muita adrenalina e uma modéstia singular fazem desse disco um trabalho não de baterista para bateristas, mas sim um álbum universal, altamente recomendado para qualquer um que queira ter o prazer de se emocionar com essa pérola do jazz-rock / fusion.
O processo de composição parece ser simples e baseado em jams sessions, ou seja, Cobham cria uma levada na bateria, o baixo toca um riff constante, uma porção de solos são jogados em cima. Linhas melódicas são adicionadas antes ou depois para tornar a coisa mais interessante, adiciona-se um naipe de metais e pronto!
 “Quadrant 4”, uma paulada no pé da orelha que no início tem o batera e o espetacular tecladista Jan Hammer quebrando tudo.

Em seguida vem o baixo pulsante de Lee Sklar, fazendo a “cama” para a entrada triunfal da guitarra quente e esmerilhante do mestre Tommy Bolin, até então um jovem guitarrista que estava chamando a atenção por seu estilo marcante, mestre do pedal delay e com grande versatilidade, vide suas posteriores passagens por bandas como Zephyr, James Gang e Deep Purple.


Foi em Spectrum que Bollin chamou a atenção do mundo da música,arrancando comentários elogiosos de nomes como Jeff Beck,Jimmy Page,David Gilmour e até mesmo do genioso Ritchie Blackmore,que o teria indicado para substitui-lo no Purple. O grande baixista Ron Carter, na música “Spectrum”.Outras músicas que completam o disco são as envolventes “Le Lis” e “Red Baron” e a porrada “Taurian Matador”, mas sugiro que comece a ouvir esse álbum da mesma forma que eu comecei, ou seja, com “Stratus” e o volume no máximo. Aguarde a introdução pois ela reserva uma surpresa incrível assim que Billy Cobham dá a última batida e o baixo entra.
Este trabalho foi decisivo e abriu caminho para que Tommy Bolin, em Spectrum, Bolin se mostra um guitarrista incrivelmente versátil cujo trabalho no Purple certamente foi subestimado.
Com um time de craques o baterista que esteve altamente inspirado nas seções de gravação,colabora com um disco para a música , e mostra que quando o artista principal é bom e não se leva pelo orgulho e sim canaliza sua música, pare uma obra singular onde a bateria mostra uma dinâmica nunca ouvida ou mostrada na música, timbres que realmente colorem as músicas , sem soarem falso como um truque barato de estúdio, e atuações com inspirações extra terrenas com certeza. COMPRE.
 
Faixas:
1-"Quadrant 4" – 4:20
2-"Searching For the Right Door" – 1:24
3-"Spectrum" – 5:09
4-"Anxiety" – 1:41
5-"Taurian Matador" – 3:03
6-"Stratus" – 9:50
7-"To the Women of My Life" – 0:51
8-"Le Lis" – 3:20
9-"Snoopy's Search" – 1:02
10-"Red Baron" – 6:37