sábado, 24 de setembro de 2011

A Família Novos Baianos e o disco Acabou Chorare



Um dos principais grupos do Brasil nos anos 70, os Novos Baianos acabaram tendo seu reconhecimento muito mais por um disco do que por sua discografia. Baby Consuelo (voz, percusão), Morais Moreira (violão, voz, que depois mudou para Moraes, com "e"), Paulinho Boca de Cantor (voz, percussão), Luiz Galvão (voz, poesia, inspiração), Pepeu Gomes (guitarra, bandolim, bandolim elétrico, órgão, percussão), Dadi (baixo), Jorginho (cavaquinho, cavaquinho elétrico, bateria), Baixinho (bateria, percussão), Bola (percussão) e Charles fizeram de sua música uma criativa mistura de afoxé, rock, samba, chorinho, bossa-nova, blues, frevo e música tradicional nordestina jamais vista e ouvida no país, e que muitos torcem o nariz sem ao menos se prestar a ouvir os LPs com atenção.
Esbanjando técnica, virtuosismo e criatividade peculiares ao som do grupo, com destaque principalmente para Dadi e Jorginho, dois monstros em qualquer um dos instrumentos que possuíssem em suas mãos.
Esse é aquele disco que podemos definir como ESSENCIAL e CLÁSSICO (sim, grafado com maiúsculas). O Novos Baianos foi apresentado a João Gilberto (segundo Galvão, João foi apresentado ao grupo) e acabou influenciando diretamente no processo de composição de Morais, Galvão (agora mais compositor que cantor) e Paulinho. Além disso, Jorginho passou a tocar cavaquinho, e Pepeu dedicou-se ao bandolim. O resultado: uma obra-prima, eleita pela revista Rolling Stone como o melhor álbum de música brasileira. Acabou Chorare é daqueles discos que você ouve, ouve, ouve e nunca enjoa, de tão gostoso, singelo e belo. Afinal, é difícil achar um disco que tenha como canções de abertura duas monumentais pérolas da música: "Brasil Pandeiro" e "Preta Pretinha".
 O Novos Baianos acham o som certo, que é a mistura do samba com música nordestina e rock. Engana-se quem pensa que o disco é somente samba. O rock está disponível em grandes doses, principalmente graças a entrada do agora A Cor do Som como banda de acompanhamento, mudando a parte instrumental do grupo, adicionando doses violentas de virtuosismo e genialidade.
 "Um Bilhete Prá Didi" é a que melhor expressa a importância da entrada de Pepeu, Jorginho e Dadi, sendo uma magnífica canção instrumental recheada de solos impressionantes através do duelo furioso entre cavaquinho e guitarra, onde Jorginho esbanja técnica tanto na bateria quanto no cavaquinho, e Pepeu é soberano nas seis cordas. Mais rock 'n' roll pode ser ouvido em "Tinindo Trincando", "A Menina Dança" e na linda "O Mistério do Planeta", com sessões marcadas, quebradas e com Pepeu como sempre, tocando demais. A bela faixa-título é uma poesia de Morais ao violão e voz, bem como "Swing de Campo Grande" e "Besta É Tu" são sambas de origem, brasileiros de nascença, respeitando a tradição dos nobres compositores dos morros cariocas. Mas, como eu disse, os maiores destaques são "Brasil Pandeiro" e "Preta Pretinha". A primeira, uma versão para a canção de Assis Valente, foi gravada por sugestão de João Gilberto, e se tornou o maior sucesso do grupo através de um samba simpático, com uma bela divisão vocal entre Paulinho, Baby e Morais, além de um espetáculo de solos feitos por Jorginho no cavaquinho e Pepeu no bandolim e violão. Já a segunda ganhou duas versões no LP, com a segunda sendo apenas a extraçao de um trecho da primeira, em uma longa canção com praticamente apenas dois acordes, em um dos crescendos mais impressionantes, delirantes e belos da música, que gravou para sempre na história da MPB a frase "abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer". Outro grande destaque é o encarte da versão original, em formato de livreto, apresentando muitas fotos, o que torna o LP ainda mais apetitoso. Disco para toda a vida.



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